Eu ia sem grande
pressa. A cabeça ia embrenhada no como resolver uma questão fotográfica e o meu
olhar, à medida em que ia caminhando, deambulava pelo que se me oferecia no
caminho.
Mas ficou preso
naquela montra. Uma loja numa estação de caminho-de-ferro, vendendo roupa e
acessórios de moda femininos. No entanto, um conjunto de artigos na montra
poderia resolver-me a questão. Entrei.
Expliquei ao que
ia, testei o que queria e a conversa alongou-se. Naturalmente que muito para
além daquele negócio em perspectiva e abrangendo as actuais dificuldades da
vida.
Quem me atendia
também não era parca nas palavras e a revolta tinha-se instalado. A dado passo
afirma que haveria era que acabar com todos esses ladrões de alto nível. Que
vai preso que rouba um pão, tem perdão quem rouba um milhão. Ou semelhante.
Ficou a olhar para
mim quando lhe respondi, sem ironias ou sorrisos:
“Quero mesmo é
outra coisa. Os ladrões, cedo ou tarde, são apanhados. Mas não há margem de
tempo para quem anda a recolher o que come dos caixotes do lixo. É com isso que
quero terminar. A questão dos roubos é um sucedâneo.”
Olhou para mim uns
segundos e voltou à carga, que com aqueles bandidos haveria era que…
O problema actual
é rigorosamente este: preocupamo-nos no como resolver deixando para segundo
plano as questões de fundo: o que atingir. É pouco importante acabar com os
roubos ou corrupções. É realmente importante acabar com a pobreza, a fome, o
não acesso à justiça, à saúde, à educação, o haver quem, por ter nascido de
gente sem posses esteja condenado a assim viver para sempre. Isso ou recorrer a
roubos e outras estratégias que todos condenam.
No campo
politico-partidário a questão repete-se.
Quer se trate das
formações existentes, quer analisemos as emergentes, com maior ou menor protagonismo,
as propostas apresentadas passam, primordialmente por resolver questões
pontuais. Deficites, insolvências, sistemas informáticos, relações
diplomático-comerciais…
As questões que
essas medidas pretendem resolver não são alicerçadas em projectos de sociedade.
São como as mantas de retalho que se vão juntando, tapando aqui e ali mas que,
na prática, não resolvem a questão do frio.
As organizações
políticas existentes continuam a agarrar-se nas questões da gestão de
dinheiros. Públicos e privados. As organizações que vão surgindo, com este ou
aquele rótulo, vão-se preocupando com os métodos, mais abertos e
participativos, mais férreos e centralistas. Mas nenhum deles argumenta ou se
bate por opções de sociedade, igualitária ou não.
Entendem, por
aquilo que vou entendendo, que pobres e ricos são uma inevitabilidade e que com
isso teremos que viver. Batem-se sobre quem toma as decisões, se local, se
regional, se global, mas não os oiço argumentar em torno dos que não possuem,
sequer, ânimo para decidir que não seja a sobrevivência diária. Discutem
questões ambientais do planeta, mas não os vejo a tomar medida na efectiva
distribuição de recursos e meios por todo ele.
O dinheiro é-me
pouco importante. Apenas define estratos sociais e permite (ou não) o acesso à
satisfação das necessidades básicas: físicas, emocionais, intelectuais.
Enquanto não se
decidir que o que importa é ser feliz e viver em tranquilidade, todas as outras
medidas, argumentos e teorias mais não serão que mais do mesmo, perpetuando as
diferenças entre humanos baseadas em poder. Seja ele qual for.
Enquanto o que
importar seja a forma e não o conteúdo, enquanto o que importar sejam os meios
e não os fins, tenham lá santa paciência, mas não contam comigo.
Que eu não quero
acabar com os ricos mas sim com os pobres!
Não sei se aquela
quarentona naquela loja de moda barata entendeu a minha mensagem.
Afinal, a sua
própria sobrevivência material depende do consumo rápido fruto da volatilidade
das modas. Teóricas e práticas.
By me
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