Todos aqueles que
se dedicam um pouquinho a sério à fotografia conhecem esta imagem feita no
VietNam em 1962.
Um homem, de pé e
amarrado e um outro apontando-lhe uma pequena pistola à cabeça. Sabe-se que vai
disparar, matando-o. E assim aconteceu.
Qualquer um que
veja esta imagem, ganhadora de um prémio do World Press Photo, ficará arrepiado
com o sangue frio de quem mata e tocado com a expressão de antecipação da morte
da outra figura.
Aquilo que não é
contado é que quem empunha a pistola é um oficial de polícia e quem está a ser
assassinado desta forma é um bombista que teria feito rebentar um engenho
explosivo, matando a família do polícia.
Também é bem
conhecida uma outra, igualmente ganhadora desse prestigiado prémio, mas mais
recente: 2006.
Nela, cinco jovens
passeiam-se num dispendioso descapotável por entre as ruínas de Beirute, depois
de um bombardeamento Israelita.
Ficamos
impressionados com a displicência dos ocupantes do carro, contrastando a
opulência deste e os seus sorrisos com a total destruição em redor.
Aquilo que não nos
contam é que eles residiam naquele mesmo bairro, tinham conseguido fugir antes
do bombardeamento e estavam de regresso em busca das suas próprias casas.
Aparece agora um
outro caso, em parte equivalente.
Surgiu na web, por
muitos milhares partilhado e comentado, um vídeo onde um rapazinho corre por
entre as balas de um atirador furtivo para salvar uma garotinha, na Síria.
Recordo ter lido
um comentário onde se falava do heroísmo do petiz e um outro onde se perguntava
qual o tipo de facínora que dispara sobre crianças.
Veio agora a
público que tudo aquilo foi mentira. Tratou-se de um vídeo de ficção, encenado
e rodado em Malta por Lars Klevberg, com actores profissionais e uma equipa de
cinema profissional a registar a acção.
Sobre o assunto e
explicando o vídeo e os seus motivos, um texto num jornal português. Aqui: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4241423&page=-1.
Saiba-se que a
verdade das imagens – reportagens, moda, arquitectura, decoração, publicidade,
etc. – não está em quem a faz!
Está, antes sim,
na cumplicidade existente entre quem a faz e quem a vê. Está na categorização
de “verdade” dada por quem a faz e no aceitar essa categoria por quem a vê.
No mundo dos
media, da internete e das redes sociais, damos por verídica qualquer imagem -
estática ou animada - que de algum modo queiramos aceitar por verídica.
Os embustes ao
longo da história usando a imagem como suporte têm sido mais que muitos. E a
credibilidade dada ao que surge vindo dos media tem sido aproveitada para além
da exaustão por quem quer manipular o público, induzindo-o a ter opiniões que,
em sabendo de tudo, não teria.
Tenho para mim que
o saber ver imagens, o sentido crítico e mesmo o cepticismo, deveria ser algo a
ser aprendido logo desde os primeiros anos de escola.
Num sociedade como
a actual, em que a imagem é consumida ao ritmo de poucos segundos cada uma,
tomar por real o que aparenta ser sem o questionar é, no mínimo, um suicídio
intelectual.
Mas talvez que
seja esse o objectivo.
O exercício do
poder por parte de uma classe dirigente, que nem sempre tem rosto, usa o
dinheiro, a aparência de democracia e os media, nas suas diversas formas, para
dar suporte aos seus desígnios.
Em caso de
dúvidas, veja-se com os realmente grandes magnatas têm, na sua carteira de
investimentos, cadeias de jornais ou rádios ou televisões. Reais ou virtuais.
Cabe-nos a nós,
produtores de imagens, separar o trigo do joio logo aquando da sua produção,
não fazendo ou divulgando imagens que dêem suporte a essa manipulação.
A menos que os
nossos objectivos e consciência estejam limitados à fama efémera, mesmo que
desonesta.
By me
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