Ao longo dos anos
tenho estado envolvido em diversas acções de ensino/aprendizagem.
Todas elas
envolveram aquilo que sei fazer (melhor ou pior) e revestiram-se de
características bem diversas.
Desde o trabalhar
com jovens nos chamados “tempos livres”, à formação profissional em ambiente de
trabalho; da formação em ambiente formal de escola, aos apontamentos soltos
sobre este ou aquele assunto; do trabalhar com adolescentes a grupos de
adultos.
Nunca houve duas
situações iguais, mesmo que em anos consecutivos na mesma instituição. Não há
dois grupos de gente a querer aprender iguais!
Nem nas
motivações, nem na facilidade, nem na interacção alunos (formandos, aprendizes)
com os professores (formadores, auxiliares de aprendizagem), nem nas relações
entre discentes, nem nas relações entre docentes…
A minha sorte tem
sido, no meio de tantas variáveis saudáveis, o ter tido “pulso livre” nos
conteúdos, precedências, organização e métodos. Mesmo quando os objectivos são
semelhantes (“saber fazer” e “saber justificar”, teóricos e práticos), esta
liberdade de acção tem-me permitido ajustar métodos e abordagens em função do
grupo de trabalho, tentando tirar partido das diversas dinâmicas presentes,
tanto do grupo como de cada indivíduo.
Tudo se torna
muito mais fácil quando se trabalha com um grupo homogéneo. Homogéneo nos
saberes e práticas anteriores, homogéneo nas motivações, homogéneo nas relações
dentro do grupo, homogéneo na vontade de aprender, homogéneo na facilidade em
aprender.
Quando algum
destes factores diverge a coisa complica-se. E complica exponencialmente na
medida em que aumenta o número de factores de divergência. E o factor mais complicado
com que se pode lidar é a vontade de aprender. Melhor, a falta de vontade de
aprender.
Em regra, esta
manifesta-se entre os jovens.
É, naturalmente,
muito mais divertido viver a vida lá fora que dentro de uma sala de aula, mesmo
que esta seja um estúdio onde estão a praticar novos saberes. Esta situação
resolve-se, as mais das vezes, com estratégias de estimular o interesse, quer
seja pela descoberta de coisas novas, quer seja pelo alimentar o ego, quer seja
pelo ajuste dos conteúdos às necessidades e curiosidades de quem aprende. Com
diplomacia, boa-vontade e tratar cada um por si mesmo e não como mais um. Que
se há coisa que todo o jovem, pré ou pós os vinte anos, gosta é de marcar o seu
lugar ao sol.
Com não jovens, a
falta de vontade em aprender é bem mais complicada. Desde logo nos motivos.
Muitos dos que
frequentam locais de aprendizagem fazem-no não porque queiram realmente
aprender e obter novas competências mas tão só porque o obter o respectivo
certificado lhes permite melhorar a vida. É legítimo mas complicado de
resolver, já que boa parte do trabalho de quem ajuda a aprender passa por criar
a motivação para que tal aconteça.
Depois porque
alguns dos que frequentam os locais de aprendizagem fazem-no porque o seu
principal objectivo, mesmo que não assumido pelo próprio, é o convívio. A
aprendizagem e tudo o que em torno dela acontece é um meio para que tal aconteça.
Uma vez mais, contornar esta não vontade de aprender passa por criar motivação
em tal. Quase metade do trabalho passa por tal.
Some-se-lhe que a
vontade ou disposição de aprender acontece na proporção inversa da idade. Não é
regra, nem pouco mais ou menos, mas é comum. Isto porque aprender implica
treino. Treino no aceitar novas ideias e práticas, treino na capacidade de
concentração, treino na capacidade de retenção ou entendimento. Na medida em
que o tempo de vida vai passando, cada um vai criando zonas de conforto. Físico
e intelectual. Aquilo que venha perturbar esse conforto provoca, naturalmente,
desconforto. Que impede ou limita a aprendizagem e a vontade em a ter. Mesmo
que de tal não se tenha a percepção.
É papel de quem
ajuda a aprender o contornar estas limitações ou condicionantes. E com
estratégias várias. Para além do estímulo individual, a diplomacia em não ferir
susceptibilidades tem que ser muito maior que quando se trabalha com
adolescentes. Tal como a graduação das complexidades dos novos saberes e
competências tem que ser mais gradual e adaptada, tanto quanto possível, às
necessidades e capacidades de cada um. Mais cuidado ainda que com adolescentes.
Obviamente que se um
grupo de trabalho de não adolescentes é composto de gente com hábitos de
aprendizagem, com mentes abertas para as novidade e a diferença e com
tolerância interpessoal e intergeracional elevada, então é um prazer talvez que
maior que com adolescentes. Que a experiência de cada um e os seus respectivos
contributos valorizam em muito todo o trabalho do grupo.
Em todas as
situações em que estive envolvido como ajudante de aprendizagem tive sempre a
mesma dúvida. Para a qual espero nunca encontrar resposta.
Nunca sei quem
mais aprende: se o grupo com quem estou a trabalhar se eu mesmo.
By me
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