A questão dos
serviços públicos ou estratégicos é francamente mais importante que apenas o
negócio em causa, lucros e prejuízos.
Três exemplos
simples:
A comunicação
entre Estado e cidadãos. Quer se trate de fiscalidade quer se trate de justiça,
elas acontecem usando sistemas de comunicação. Electrónicas ou postais
convencionais. Ora se estes serviços de comunicação dependerem de empresas
privadas, cujo objectivo, mais que a eficácia é o lucro, podem com esse
objectivo preterir determinados canais de comunicação na sua velocidade ou
eficácia, em prol de outros mais rentáveis.
Pode, assim,
acontecer que a comunicação de um julgamento, que tem prazos definidos por lei,
ser atrasada na sua entrega. Ou de uma penhora. Ou da cobrança de um imposto. E
sendo que os prazos são contados, de acordo com as regras actuais, a partir da
data de expedição, estão os destinatários dependentes do bom funcionamento de
uma empresa privada cujo objectivo, repito, é o da obtenção de lucro com a sua
actividade.
A energia. Os
hospitais dependem do fornecimento de energia. Para iluminação, controlo de ar,
cirurgias, suportes de vida. Mas pode ser mais dispendioso a manutenção dos
fluxos energéticos nos níveis desejados para uma zona onde esteja um hospital
que para uma zona onde estejam fábricas. Na lógica do lucro de uma empresa
privada de produção ou distribuição energética, faz mais sentido manter em bom
funcionamento aquilo que gera mais lucro.
Transportes. Uma
rede rodoviária de passageiros privada tem que dar lucro. É para isso que
existe o investimento do empresário. Manter em funcionamento em serviço
nocturno as carreiras urbanas ou suburbanas aumenta os custos por passageiro,
já que existem menos em trânsito. Faz sentido, do ponto de vista empresarial,
suprimir carreiras com poucos passageiros. Mas aqueles cidadãos que se
instalaram numa dada zona da cidade ou dos subúrbios, contando com os
transportes existentes e tendo horários de trabalho nocturno, ficarão sem ter
como aceder aos postos de trabalho. Ou mudam de casa, ou mudam de trabalho ou
são obrigados a investir num automóvel.
Como estes três
exemplos, muitos outros se podem apresentar.
As privatizações
selvagens de sectores públicos estratégicos, tendo por mero objectivo a
rentabilização e negligenciando os utilizadores e as consequências de uma
diferente exploração dos serviços, são o espelho dos conceitos de sociedade que
uma classe abastada defende, deixando à sua sorte aqueles que não têm meios ou
força para as contrariar.
É fácil decidir
nesta linha para quem tem um representante legal a tempo inteiro, um hospital
privado às ordens ou um veículo com motorista privado.
Os outros, os que
alimentam com a mais-valia do seu trabalho as mordomias dos decisores, que se
cuidem!
Até um dia.
By me
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