Não
costumávamos ter trabalho de manhã.
Apesar
de o autocarro nos trazer a todos do hotel a 10Km para o estádio, as manhãs não
tinham novidade: verificar equipamentos, algumas afinações e pouco mais.
Trabalho
mesmo havia, depois do almoço tardio habitual, naquela cidade de Málaga. Umas
entrevistas gravadas, algumas para editar, alguns envios… nada de pesado, mas
que havia que fazer.
Mais
a sério acontecia já de noite, com um directo diário para o México. Por via das
diferenças horárias, acabava sempre perto já da meia-noite, hora em que podíamos
ir jantar. Por vezes umas mariscadas bem tardias na beira-mar.
Numa
das manhãs, poucas, que tive livre, e num desses passeios, tropeço num cartaz
de um teatro. Anunciava ele três representações de “Porgy and Bess”,
interpretadas por uma companhia novairoquina em tornée pela Europa. E que, de
acordo com o afixado, aconteceria bem em cima do horário da mexicana.
Azar!
Nessa
tarde, e enquanto estava de volta dos “rocks”, convergências, gammas e outras
minudências, comentei o azar com o director técnico local, que sempre estava
por ali, irmanado nas tarefas e empenhado em lubrificar qualquer problema
surgido.
Já
na noite, sentados uns quantos numa esplanada de Torremolinos a beber umas cervejas
com gasosa (moda local), e enquanto víamos um leão bebé a passear de colo em
colo para ser assim fotografado, pergunta-me ele em que dias seriam as
representações. E que fosse comprar um bilhete, que ele asseguraria o trabalho
nessa noite.
Senti-me
particularmente honrado com a oferta. Eu, o único fedelho tuga de vinte e troca-o-passo
que tinha integrado aquela equipa da RTVE, ser substituído pelo director técnico
por oferta deste… Tanto mais que nada havia pedido.
Claro
que fui e claro que saí do teatro, noites depois, com o olho e alma cheia do
que ali havia visto naquele palco pequenito.
Talvez
que por isso, uns dias depois e em tarde de jogo com transmissão mundial, tenha
dado uma valente cabeçada numa viga de cimento que me conduziu directo para o
hospital local e de onde quase que saía nú porque as enfermeiras… Bem, isso são
outras histórias para outras ocasiões.
Não
sou pessoa para trazer recuerdos dos locais por onde passo. Ou bem que a memória
mos fixa, porque importantes, ou bem que não vale a pena recordá-los.
Mas
desde ’82 que este pequenito quadrinho me tem acompanhado bem à vista por onde
quer que tenha vivido. Só para que me não esqueça.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário