Que soubesse,
havia três: No Centro Comercial Arco-Iris, as galerias Ritz e o Galeto.
As galerias Ritz
foram as primeiras a fechar, faz já muito tempo. Frequentava-as, mais um grupo
de gente, por serem um dos locais onde se podia comer até bem mais tarde em
Lisboa. E com bom vinho, diga-se de passagem. Por vezes o balcão e bancos
estavam cheios e tínhamos que aguardar à porta, folheando as revistas de
fotografia Inglesas, Francesas ou Americanas que por ali também se vendiam,
entremeadas com cigarros, cigarrilhas e charutos. Para quem quisesse também
havia tabaco de cachimbo, várias marcas e características. A moda dos de
enrolar ainda não tinha chegado por cá, ficando reservada para os bem mais
velhos, com outros hábitos e bolsas.
Em seguida foi a
vez do que ficava no Arca-Iris. Mudou de aspecto e o balcão em zig-zag que o
caracterizava dividiu-se em mesas e cadeiras de cor clara, incaracterísticas e
banais. Porque ficava numa zona central da cidade, pelo menos no centro do que
frequentava, e porque ficava perto do trabalho, era eu cliente assíduo. Além do
mais, e isto é factor de primeira ordem, ficava paredes-meias com um dos
melhores mecânicos de equipamento fotográfico da cidade. Motivo de visitas
frequentes e de compras de ocasião de fazer chorar os mais invejosos.
Resta o Galeto. Mantém
o balcão em zig-zag, com os empregados a circularem lá por dentro, com rapidez
de serviço e qualidade do que servem.
Há quem diga, com
a boca cheia de maldicência, que é local de pouso “putas finas”, mas nunca dei
por nada. Ingenuidade minha, quem sabe? O mais que por lá vejo são idosos,
agarrados a tradições antigas, famílias, com rebentos e tudo, que entre a ida à
missa e uma qualquer vista familiar, vão ali em busca de um repasto rápido mas
de qualidade. Os grupos de amigos, seja qual for a hora, por mais tardia que
seja, preferem as esquinas, que são mais propícias a conversas, que os convivas
não ficam todos em linha.
O balcão não é particularmente
largo, mas suficiente para receber o toalhete de papel com monograma, pão,
talheres, prato e travessa e copo. As garrafas, essas, ficam na prateleira de
dentro, num nível mais baixo. E se não se tomar cautela, os seus conteúdos voam
em menos de nada, que os empregados em passando e vendo copos vazios tratam de
os encher. E perdemos a conta ao que já “marchou”.
Disse-me, quem
conheceu aquilo de início, que a sua origem se deveu a um emigrante português
que, em regressando do Brasil, resolveu investir num restaurante de qualidade e
duradouro. Em boa verdade, ambas as características se mantêm até hoje: a
comida recomenda-se e a decoração matem-se, assim como os balcões em zig-zag e
os bancos de pé alto, fixos nos degraus de pedra.
O que não se mantém,
para meu profundo desgosto, é um detalhe que também fazia dele único:
Presos ao balcão,
do lado de dentro, entremeados com os suportes das ementas e dos condimentos e
temperos, havia os cinzeiros.
De latão sempre
brilhante, como as pequenas meias bolas existentes nas paredes, eram uma quase
esfera, com uns dez centímetros de diâmetro, com a boca convidativa à cinza e à
beata virada para cima. Nunca vi nenhum entornar-se, que estavam solidamente
agarrados, nem nunca consegui descortinar como eram despejados.
Agora, com a
noveis regras de fumadores/não fumadores, no vidro da entrada está o malfadado
dístico, rectangular e vermelho, interditando o prazer de um cigarro com o café
após uma boa refeição, em boa companhia.
Dos cinzeiros,
restam frestas na madeira, mostrando o lugar onde existiram anos a fio. E a
nossa memória daqueles objectos amarelos e brilhantes.
Estive vai-não-vai
para chamar pelo gerente e perguntar-lhe se, por mero acaso, não teriam um
deles a jeito para ser fotografado ou, melhor ainda, se haveria algum para
venda. Faltou-me a coragem desta vez, mas não garanto nada da próxima!
O que aqui vedes
será, se a memória me não falha, a cor do interior desses objectos agora
desaparecidos.
By me
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