Saio do trabalho
com a sensação de, apesar de ter sido honesto no que fiz, dando o meu melhor,
terá sido um esforço inútil. Melhor: fútil.
Maquinalmente inicio
o trajecto para casa. Afinal, e apesar da hora, há muitas que estava a pé. E isso,
somado a um aborrecimento fenomenal, fazia o corpo aspirar ao “lar, doce lar” e
a cama que mais tarde me haveria de acolher.
Mas o
aborrecimento épico de que sofria não era o suficiente para me impedir de
pensar: “Raisparta! Nem sequer levas uma fotografia p’ra casa? Sai e faz uma!”
E, obedecendo à
consciência, que costuma ser boa conselheira, saí do comboio ainda em Lisboa e
comecei um pequeno passeio a pé.
Nada! Nadica de
nada. O mundo estava lá para ser registado mas eu não o sentia. O aborrecimento
fatal estava a dar conta de mim. A juntar à festa, começou a cair uma chuvinha
miudinha, chata, que não justificava o enfiar-me num café (deixara o
guarda-chuva em casa) mas que ia molhando tudo: boné, casaco, barba…
Mandei tudo às
urtigas e procurei a paragem de autocarro mais próxima que me levasse aos
comboios. Há dias em que não adianta.
Mas a que
encontrei estava tão cheia quanto vazia estava a rua de autocarros. Mais: as
pessoas começavam a olhar umas para as outras, em tom de desafio, dando a
entender: “Não te chegues p’ra te protegeres da chuva que daqui não saio!”
Foram as gotas de
água! Molhado por molhado, não quero estes por parceiros de viagem! E parti a pé,
mesmo debaixo de chuva. Já não aborrecido mas antes chateado: comigo, com as
gentes, com o trabalho, com a chuva, com a água no chão…
E foi a olhar para
o chão, tentado fugir das poças na calçada, que dei com estas, insuspeitas numa
zona “nobre” da cidade.
Animei. “Afinal,
nem tudo está perdido!”, pensei. De caminho em caminho, de rua em viela, ainda
fui dando ao dedo. A luz não prestava, mas eu havia acordado. E aquilo que,
meia hora antes haveria de me escapar, agora já não escapava.
Quando a caminhada
estava longa, e os cigarros curtos, vou por estes.
Entro num centro
comercial e sou surpreendido com a informação que deixaram de ter tabacaria.
Nem sequer uma reles máquina automática.
Parto para outro,
onde não contava entrar. Comprei o que queria e, já que ali estava, fui meter o
nariz numa livraria onde raramente entro.
Surpresa!
Estavam parcialmente
em saldos e acabei por sair com cinco livritos de fotografia, comprados quase
mais barato que a chuva que caía lá fora. Quase mais baratos cada um que um
maço de cigarros. E os livros não se queimam!
“Certo! Agora está
a dar-me a fome!”, disse de mim p’ra mim. E abeirei-me de uma daquelas lojas de
franshising. No lugar de ir jantar em casa, jantaria ali e, em lá chegando,
seria directo p’ra cama, que a alvorada será cedo.
E quando apresento
um cartão para ser acrescentado mais um consumo, que me daria descontos quando
completo, sou informado que está já completo e que o jantar é de borla. Grátis
mesmo!
Creio que os
espanhóis têm razão, quando dizem que não gostam de bons começos.
E se ainda tivesse
alguma dúvida, perdê-la-ia hoje:
Quando a consciência
recomenda algo, por invulgar ou estranho que seja, segue o conselho. Bate
sempre certo!
By me
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