Isto
é uma pedra. Apanhei-a de um jardim decorado há alguns anos.
De
quando em vez transporto-a comigo, no bolso do meu colete. Até mudar de colete ou
ter que lá transportar uma objectiva. É sabido que objectivas e pedras não se dão
lá muito bem.
Mas
também costumo tê-la na mão: no trabalho, à espera do comboio, no autocarro…
sempre que sinto a necessidade de ter uma conversinha com ela.
Em
boa verdade, não tenho nenhuma conversa com a minha pedra. As mais das vezes
limito-me a ouvir o que ela tem para me dizer. Longas histórias sobre tempo,
sobre a sua idade e sobre o quão realmente novito eu sou, sobre os nossos
antepassados que ela conheceu, símios, dinossáurios e tal, por vezes
apresentando-me a algum conhecido dela: uma montanha, um pouco de areia, outra
pedra…
Passa
ela muito tempo a explicar-me como frívolos somos, os humanos, quando nos
batemos por um pedaço de terra, a mesma terra que já ali está muito, muito
antes de virmos à superfície fluida do planeta. E que ali continuará a estar
muito, muito depois de desaparecermos para sempre.
Também
costuma mostrar-me o absurdo da pressa que temos na vida, quando nem sequer
vemos um nascer do sol ou um arco-íris, quando não ouvimos os pássaros ou
sentimos a brisa. Nós nem sequer nos apercebemos quando nasce uma estrela!
Quando
a tiro do bolso e a acaricio na mão os meus colegas no trabalho dizem (ou
pensam) que estou mais louco a cada dia que passa. Talvez que seja verdade, mas
também é verdade que a chamada “sanidade mental” é aborrecida de morte.
Esses
discursos que oiço da minha pedra conduzem-me a uma condição bem mais pacífica,
a uma maior comunicação com o que me cerca, quer seja ao alcance da vista ou na
outra ponta do universo. Por vezes bem que gostaria de ser uma pedra, com toda
a sua imensa sabedoria.
Tenho
duas outras pedras em casa. Semelhantes a esta no aspecto e matéria. Mas
suponho que não se dão tão bem comigo como esta: não falam comigo. Talvez que
entendam que não mereço as suas atenções.
É
que, no fim de contas, são elas que nos possuem, e não o inverso como
costumamos pensar.
Ou
isso, ou sou demasiado ignorante para as entender.
By me
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