sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

E quando o feitiço se volta contra o feiticeiro…



Sabemos que viver na urbe implica avaliações e concessões. Em particular no que respeita ao partilhar a via pública entre peões e automóveis: os passeios são para os peões, o asfalto para os carros.
Zonas mistas são as passadeiras.
Nestas prevê-se que o peão tenha a prioridade, devendo o automóvel parar.
Por mim, não levo isto à letra.
Se tenho tempo, ou vejo vir dois ou três carros e nenhum atrás, afasto-me da beira do passeio e deixo os carros passarem. É bem mais fácil para mim esperar uns míseros cinco ou dez segundos que para os carros pararem.
Mas tenho também um outro hábito: em parando um carro para que eu passe numa passadeira e em passando eu à sua frente, faço um aceno de agradecimento. Não tenho que o fazer, mas sabe-me bem e sei que quem conduz gosta.
Hoje foi o contrário.
Queria eu atravessar a rua nesta mesma passadeira. Aproximei-me da sua beira e vejo que se aproxima uma carrinha com uma grua, daquelas de reparar os candeeiros.
Vinha rápido e nenhuma outra viatura a seguia.
Dei dois passos atrás, afastando-me do asfalto e parei.
A carrinha, que tinha ligeiramente abrandado, acelerou de novo, passando.
E à passagem, o motorista, velhote e careca, acenou-me com um gesto largo de agradecimento.

É bom ver que não ando por aí sozinho na cidade.

By me 

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