Eu sei que fui
mauzinho. Ou talvez não.
Andava já com ela
engatilhada e hoje foi o dia de estreia.
Vi-as entrar no prédio.
Os cartões que traziam pendurados no peito, bem como as pastas na mão não davam
azo a dúvidas: agentes comerciais de uma empresa conhecida de comunicações.
Subi rápido e,
sendo que tinha que o fazer de qualquer modo, fui pôr água no balde, deixando-o
pertinho da porta de casa.
Quando me bateram à
porta, passada talvez uma meia hora, fizeram-no do modo que eu esperava. E que
detesto do fundo da alma: campainha e nós dos dedos na porta.
Caramba! Esta é a
forma de chamar alguém de urgência, de não deixar para depois, de fazer correr
a ver o que se passa. E não gosto que me imponham, em minha casa, a urgência
dos outros não sendo urgente.
Abri a porta com o
casaco meio vestido e com o balde de água na mão. Só meio, entenda-se, que não
o queria entornar.
E, com o ar mais
honesto e aflito possível, perguntei de afogueada:
“Onde é o fogo?
Onde é? Já chamaram os bombeiros?”
Claro que a
reacção delas foi a esperada: espanto total.
E eu acrescentei:
“Para me baterem à
porta desta forma, ou há fogo ou está alguém entre a vida e a morte. Não sou médico,
mas ainda posso ajudar a apagar um incêndio. Onde é?”
Titubearam,
apresentaram as suas credenciais e ao que vinham, pediram desculpa pelo
incómodo. E eu insistia que aquela forma de chamar alguém à porta é, no mínimo,
agressiva e que não me interessa para nada que na formação que recebem lhes
digam para o fazer.
Quando se
afastaram, antes de eu fechar a porta, iam com um ar misto de preocupadas,
intrigadas e divertidas.
By me
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