Durante os três anos
que durou o meu projecto “À-Lá-Minuta”, passou em frente da minha objectiva e ficou
impresso o retrato de muitas pessoas. De todos os géneros, origens, condições
económicas e académicas, ilustres desconhecidos ou não.
A todos eles
perguntava eu se autorizavam que a fotografia fosse divulgada na net. Porque o
respeito pela privacidade de cada cidadão faz parte da minha forma de estar e
porque as respostas e justificações faziam parte do meu estudo.
Recebi bastantes
respostas negativas com os mais variados motivos.
Hoje, por ser o
dia que é (Dia Mundial da Mulher), recordo um episódio em particular:
Vieram as duas,
sorridentes e mais ou menos bem dispostas, curiosas com o que seria o meu
artefacto. Explicado o que era e o que por ali acontecia, quiseram fazer uma
das duas juntas.
Fez-se.
E enquanto a magia
da impressão acontecia, foi acontecendo o questionário habitual, inócuo e sem
nada escondido. Incluindo sobre autorizavam publicar a fotografia.
“NÃO! Nem pense!”
foi a resposta.
“Sabe, somos
residentes numa casa-abrigo para vítimas de violência doméstica e não podemos
ter publicidade sobre nós.”
E uma delas
acrescentou:
“O meu ex-marido
está preso. Quer ver as cicatrizes das facadas que levei?” e começou a levantar
a fralda da camisa na barriga.
Claro que não vi!
Tal como é claro
que, mesmo passados estes anos, não mostro aqui a imagem que delas tenho. Uma
vez prometido, é sagrado o manter a privacidade.
Hoje é o Dia
Mundial da Mulher.
Espero que,
passado todo este tempo, tenham conseguido concretizar os sonhos de vida que me
contaram, já com a fotografia nas mãos.
By me
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