sábado, 21 de março de 2015

É, foi e será






Ah, e tal, eu sei que tinha dito mas sabem como é, o vício…

Apesar de todas as promessas, sempre acabei por fazer umas fotografias do eclipse, ontem.

A minha câmara de bolso tem essa vantagem: cabe e está sempre no bolso. Para onde quer que eu vá, ela vai comigo.

E ontem, sendo que iria estar na rua por alturas do apogeu do fenómeno, saí de casa com o mais básico que por aqui encontrei para poder observar com alguma segurança: três ND8 mais um polarizador, montados uns nos outros, o que reduzia a intensidade solar a níveis de observação segura, ainda que breve.

Claro que no café aqui da rua o conjunto andou de mão em mão ou, se preferirem, de olho em olho, para que os vizinhos também pudessem dar uma olhada. Afinal, não é todos os dias, nem sequer todos os anos, que tal sucede. E mesmo que as televisões estivessem a mostrar a coisa em directo, é completamente diferente ver na pantalha ou ao vivo.

O conjunto de filtros cabia-me no bolso de cima do colete, enquanto que no de baixo a câmara fazia-me cócegas.

Mesmo sabendo que a câmara é uma Coolpix 7000, com uma objectiva 6-42, equivalente em Full Frame a uma 28-200, que o diafragma mínimo é f/8, que o tempo de exposição mínimo é de 1/2000 e que não tenho como nela fixar filtros, não resisti. Com ela numa mão e o jogo de filtros na outra, bem encostadinhos à objectiva e tentando manter a perpendicularidade destes ao eixo da objectiva, lá fiz umas tentativas. Apesar das nuvens fracas dificultarem a coisa.

Isto foi o melhor que consegui, aqui aumentado umas 9 vezes, para registar o primeiro dos dois fenómenos de ontem.



O outro fenómeno, não constatável a olho nu, mais rotineiro e bem mais discreto, não pude fotografar.

Falo do Equinócio da Primavera, aquele dia em a noite tem a exacta duração do dia, em que a luz provinda do Sol é rigorosamente perpendicular ao plano do nosso equador, que usamos como fronteira entre estações do ano.

O que acabou por ter graça é que estava eu a fumar um cigarrito mas abrigado do chuvisco que ia caindo e, em chegando ao momento exacto, 22.45h, parou de chover. Pelo menos onde eu estava. Talvez que para assinalar o instante.



Marcamos o tempo em torno de efemérides centradas em nós mesmos: nascimentos, mortes, guerras, invenções…

Algumas, de distantes que são, foram arbitrariamente marcadas, como o hipotético dia do nascimento de Jesus.

Outras são móveis, como a Páscoa. Que muitos celebram com comezainas especiais, passeios familiares e, eventualmente, algum sentimento religioso. Mas poucos saberão que esta data depende da Lua: é assinalada no primeiro domingo seguinte à primeira Lua-Cheia após o Equinócio da Primavera.

E, nesta futilidade de agarrar ou controlar o intangível, esquecemo-nos que os relógios, clepsidras e outros que tais se baseiam em algo bem maior que apenas podemos constatar: o universo.



É verdade que sim: como muitos milhares, também eu fotografei o eclipse, mesmo que às três pancadas. Tal como não consegui fotografar o Equinócio.

Mas, mais em público ou mais em recolhimento, prestei a minha homenagem ao tempo que passa, ao que é, ao que foi e ao que será. 

By me

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