Ah, e tal, eu sei
que tinha dito mas sabem como é, o vício…
Apesar de todas as
promessas, sempre acabei por fazer umas fotografias do eclipse, ontem.
A minha câmara de
bolso tem essa vantagem: cabe e está sempre no bolso. Para onde quer que eu vá,
ela vai comigo.
E ontem, sendo que
iria estar na rua por alturas do apogeu do fenómeno, saí de casa com o mais
básico que por aqui encontrei para poder observar com alguma segurança: três
ND8 mais um polarizador, montados uns nos outros, o que reduzia a intensidade
solar a níveis de observação segura, ainda que breve.
Claro que no café
aqui da rua o conjunto andou de mão em mão ou, se preferirem, de olho em olho,
para que os vizinhos também pudessem dar uma olhada. Afinal, não é todos os
dias, nem sequer todos os anos, que tal sucede. E mesmo que as televisões
estivessem a mostrar a coisa em directo, é completamente diferente ver na
pantalha ou ao vivo.
O conjunto de
filtros cabia-me no bolso de cima do colete, enquanto que no de baixo a câmara
fazia-me cócegas.
Mesmo sabendo que
a câmara é uma Coolpix 7000, com uma objectiva 6-42, equivalente em Full Frame
a uma 28-200, que o diafragma mínimo é f/8, que o tempo de exposição mínimo é
de 1/2000 e que não tenho como nela fixar filtros, não resisti. Com ela numa
mão e o jogo de filtros na outra, bem encostadinhos à objectiva e tentando
manter a perpendicularidade destes ao eixo da objectiva, lá fiz umas
tentativas. Apesar das nuvens fracas dificultarem a coisa.
Isto foi o melhor
que consegui, aqui aumentado umas 9 vezes, para registar o primeiro dos dois
fenómenos de ontem.
O outro fenómeno,
não constatável a olho nu, mais rotineiro e bem mais discreto, não pude
fotografar.
Falo do Equinócio
da Primavera, aquele dia em a noite tem a exacta duração do dia, em que a luz
provinda do Sol é rigorosamente perpendicular ao plano do nosso equador, que
usamos como fronteira entre estações do ano.
O que acabou por
ter graça é que estava eu a fumar um cigarrito mas abrigado do chuvisco que ia
caindo e, em chegando ao momento exacto, 22.45h, parou de chover. Pelo menos
onde eu estava. Talvez que para assinalar o instante.
Marcamos o tempo
em torno de efemérides centradas em nós mesmos: nascimentos, mortes, guerras,
invenções…
Algumas, de
distantes que são, foram arbitrariamente marcadas, como o hipotético dia do
nascimento de Jesus.
Outras são móveis,
como a Páscoa. Que muitos celebram com comezainas especiais, passeios
familiares e, eventualmente, algum sentimento religioso. Mas poucos saberão que
esta data depende da Lua: é assinalada no primeiro domingo seguinte à primeira
Lua-Cheia após o Equinócio da Primavera.
E, nesta
futilidade de agarrar ou controlar o intangível, esquecemo-nos que os relógios,
clepsidras e outros que tais se baseiam em algo bem maior que apenas podemos
constatar: o universo.
É verdade que sim:
como muitos milhares, também eu fotografei o eclipse, mesmo que às três
pancadas. Tal como não consegui fotografar o Equinócio.
Mas, mais em
público ou mais em recolhimento, prestei a minha homenagem ao tempo que passa,
ao que é, ao que foi e ao que será.
By me
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