Eu não sou crente,
pelo menos no conceito religioso do termo, classificando-me como agnóstico.
A partir daqui
tudo aquilo que faço, em termos profissionais e relacionado com religião, é
feito sem paixão religiosa, nem a favor nem contra esta ou aquela confissão.
Tentando sempre que a qualidade do trabalho – e a eficácia da comunicação – se
alinhe pelos padrões mais elevados que consiga.
Assim sendo,
haverá sempre que analisar e saber o que é a religião e de que forma é
praticada.
E uma das coisas
que é comum a todas (pelo menos as que conheço) é que a sua prática se reveste
de tradições e rituais.
A concentração no
culto, a oração, os gestos, as palavras, os comportamentos, são ritos,
conservados desde há muito tempo. Repetidos geração após geração, ensinados por
mais velhos ou sacerdotes. Na religião não há palavras nem comportamentos
novos. O que acontece é de um conservadorismo absoluto, querido e requerido.
Não é isto nem bom
nem mau: é e ponto final.
Não me revejo
nesse comportamento, mas não serei eu que irei impedi-lo ou condená-lo.
E, enquanto
profissional da comunicação pela imagem, se me for pedido para mostrar a
terceiros um culto, terei que respeitar o que acontece, tentando reproduzir com
os meus suportes técnicos o que sucede no templo. Seja lá ele de que confissão
for.
Como me dizia um
profissional do meu ramo, há uns anos valentes, em havendo uma liturgia da
palavra, temos nós que ter uma liturgia da imagem.
Indo mais longe,
aqueles que querem usar o que faço para aceder ao culto fazem-no porque estão
impedidos de o fazer. Porque estão acamados, porque têm dificuldades de
locomoção, porque estão presos, porque não há sacerdote ou templo nas
imediações.
Assim, aquilo que
faço (fazemos) é a pobre substituição daquilo que eles gostariam de presenciar.
E é aqui que a
liturgia da imagem toma relevo: haverá que adequar o que fazemos ao que sucede
no templo e tentar que o público se sinta como que nele estivesse e naquele
acto. Concordemos nós ou não com ele.
O mostrar à
distância ou no tempo um culto religioso é, de entre as diferentes formas de
comunicar, uma das mais valiosas e rigorosas formas de comunicar com a imagem.
Para quem a recebe. E para quem a emite.
Ver a liturgia da
imagem desadaptada da da palavra ou do gesto, mostrando-a como quem mostra um
jogo de bola ou a tomada de posse de um qualquer governante, sem interiorizar
os signos e os significados do que acontece é, na minha opinião, uma
desonestidade para com quem vê o que se mostra.
Ou, se se quiser
ir ainda mais longe, um insulto aos crentes.
Enquanto profissional
da imagem não tenho que concordar com o que mostro. Mas tenho que saber
interpretar, entender e mostrar, sem preconceitos ou paixões. Apenas respeitar
as crenças daqueles que procuram o meu trabalho.
O meu mais
profundo desprezo para quem não respeitar estes pontos éticos da profissão de
comunicador!
By me
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