Acordo e vou à
cozinha.
Sei que lá me espera
o que restou do café de véspera. Eu sei! Eu sei que o café quente é francamente
melhor. Mas tento deixar feito de véspera, que a impaciência pela cafeína
matinal tem destas coisas e, assim, está pronto a consumir.
Também sei que me
esperam os cigarros que tive o cuidado de deixar feitos de véspera. Faço-os em
casa, num ritual quase zen e à medida das necessidades do momento ou do dia. Confesso
que, quando acordo, me sinto pouco disposto a rituais destes e preparo-me com
antecipação.
O que eu não sabia
que me esperava era este nevoeiro, que contradizia as previsões consultadas de
véspera. Será um daqueles “neblinas ou nevoeiros matinais”, como dizem os
especialistas, mas prefiro um bom sol a entrar pela janela.
E não apenas por questões
climáticas ou conforto físico: Quando vejo isto não posso deixar de me recordar
das crenças populares ou popularizadas já não sei por quem, em que se prevê o
regresso de um tal de Sebastião num manhã de nevoeiro para resolver os
problemas nacionais.
Como se tem
constatado, não passam de crendices. E ou bem que vamos lá, resolver as coisas,
ou continuaremos a sonhar, e apenas a sonhar, com uma vida melhor, enquanto uns
quantos se enchem à nossa custa.
Depois do registo
e enquanto fumava o primeiro cigarrito e o café se fazia novo e quente, fui ver
em “grande” o que acabara de fotografar. E dar uma olhada na rede, só para
saber de novidades.
E uma delas era um
bloguer português que referia um bloguer norte-americano que, por sua vez,
mostrava um trabalho fotográfico.
Interessante o
trabalho pelo conteúdo, não tanto pela forma.
Mas o que me
acordou a memória, ainda meio ensonada, foi o nome do bloguer norte-americano:
havia nele qualquer coisa de familiar que… fui verificar e tinha razão.
Trata-se de alguém
com quem já tive os desprazer de ter umas desavenças virtuais. Eu conto:
Em tempos houve
uma comunidade fotográfica on-line, de seu nome “Photoblog”. A comunidade era
bastante heterogénea nos seus membros, desde idades a países de origem e mesmo
continentes, funcionando bastante bem tanto virtual como pessoalmente. Dessa época
ainda mantenho alguns contactos e amizades.
Mas isto da net é
também um negócio e o blog fotográfico acabou por ser vendido a um cavalheiro
que decidiu impor normas de conduta que passavam por censura. Não gostámos e
uma boa parte de nós, que pagávamos para usar o site, abandonamo-lo rapidamente.
E o site fechou, suponho que por falta de recursos.
Mas o nome é
forte, muito forte, e tempos depois volto a sabê-lo em uso, desta feita com
outros proprietários. Que reclamam para si o mérito do nome e do modelo usado. Não
gostei e abordei-os, explicando-lhes a história do nome e pedindo-lhes que
respeitassem o passado e a comunidade que tinha com ele existido.
A resposta foi
pouco simpática. Muito pouco simpática. A roçar, mesmo, o insulto.
É evidente que não
faço parte dela, da comunidade que eles quiseram recriar. O mundo é grande e a net
também, pelo que só estou onde me sinto bem. Mas o nome do meu interlocutor
ficou-me algures entre duas células cinzentas.
E quando tenho o
azar de nele tropeçar, o passado vem à tona, bem como a forma como me
destratou.
Isto do nevoeiro
matinal tem destas coisas: o passado de uma forma ou de outra regressa,
marcando com a sua presença as crendices ou as histórias reais.
Nada que um café
quente e uns raios de sol não dissipem.
By me
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