“…
Os etimologistas
perguntam-se porque é que o termo “leiche” acabou por assumir o significado de
cadáver que é o sentido que a palavra tem hoje em Alemão. Também aqui a
evolução semântica é, na verdade, perfeitamente compreensível: o cadáver é por
excelência aquilo que tem a mesma figura. Isto é tão verdade que para os
romanos o morto se identifica com a imagem, é a “imago” por excelência e,
vice-versa, a “imago” é antes a imagem do morto (as “imagines” eram as mascaras
de cera dos antepassados que os patrícios romanos guardavam nos átrios das suas
casas). De acordo com um sistema de crenças que caracterizas os rituais
fúnebres de muitos povos, o primeiro efeito da morte é o de transformar o morto
num fantasma (a “larva” dos latinos, o “eidõlon” e o “phasma” dos gregos), ou
seja, num ser vago e ameaçador que continua no mundo dos vivos e regressa aos
lugares frequentados pelo defunto. O intuito dos ritos fúnebres é precisamente
transformar este ser incómodo e ameaçador, que obsessivamente retorna, num
antepassado, ou seja, ainda numa imagem, mas benévola e separada do mundo dos
vivos.
…”
Ensaio by: Giorgio Agamben, in “Lighten up” by João
Onofre
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