Uma destas noites
dou-me mal! A sério que me dou.
Preparava-me eu
para ir conversar com Morfeu, já não tão cedo quanto isso considerando a hora a
que acabaria essa conversa, e batem-me à porta. Sendo que ainda estava em
trajes decentes, fui saber quem seria.
Tratava-se uma
senhora minha vizinha, aliás, recém vizinha, que me perguntou se teria uma
chave com que pudesse abrir a porta dela.
Imagine-se o meu
olhar de espanto. Ter eu uma chave que abrisse a porta dela. Talvez que,
noutras circunstâncias e com mais aprofundados conhecimentos, isso fosse
possível e até agradável. Mas sendo que a conhecia apenas de vista e que nunca
trocáramos mais que uns circunstanciais cumprimentos, seria difícil de
acontecer.
Lá lhe expliquei
que não, que não tinha, ao que me contou que tinha deixado a chave em casa e a
porta se fechara.
“E está no
trinco?” estava! “Então espere um pouco que lhe vou mostrar um truque.”
Voltei a casa e
regressei com uma garrafa de litro e meio de coca-cola, vazia. Já no patamar e
usando do meu canivete, retalhei-a da forma que se vê, ficando com uma tira de
pouco mais de 25cm de plástico. Com ela, e através da frincha, lá lhe abri a
porta. Levei um pouco mais tempo do que esperava: no lugar de dez, precisei de
quase trinta segundo, que não encontrava a malfadada lingueta a empurrar.
O seu olhar, inicialmente
molhado, secou rapidamente e de espanto passou a agradecimento.
E, antes que
recuperasse o fôlego, expliquei-lhe a rir, que aquele não era o meu ofício, que
não andava a assaltar casas.
“Eu também não!”
exclamou também já rir, exibindo um arame retorcido com que tinha tentado fazer
como nos filmes, no buraco da fechadura.
Rimos mais um
pouco, trocámos nomes e um aperto de mão e regressámos a casa, cada um à sua
entenda-se. E se ela foi fazer o quer que tenha sido que costuma fazer em sua
casa, eu fui directo para a cama, que o toque de alvorada é particularmente
cedo por estes dias.
Mas já deitado, e
enquanto esperava pela chegada da inconsciência do sono, fiquei a pensar no
episódio.
É que, aqui neste
prédio e que me recorde, é terceira vez que assim ajudo um vizinho. E se a
coisa se sabe pode ser perigoso. Ou bem que sou contactado pela polícia, depois
de uma casa assaltada com este método, ou sou acordado a altas horas da
madrugada por alguém do prédio em apuros.
Ou, pior ainda,
ser processado pela Coca-Cola por estar a usar as suas garrafas para arrombar
portas.
By me
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