domingo, 8 de março de 2015

Barraca no WPP





Parece que deu barraca o World Press Photo, este ano.
De acordo com o que li, foi retirado o primeiro um prémio a um fotógrafo Italiano ao se descobrir que todo o trabalho apresentado (várias fotografias) não eram “reportagem” mas antes tinham sido encenadas. Algumas nem sequer eram do local identificado.
Não me espanta que tenha acontecido!

Sabemos que a imprensa está em declínio, enquanto meio de comunicação impresso em papel, confrontada que está com a comunicação electrónica. E manter o nível apelativo da imprensa não é fácil. Nem para quem dirige as publicações nem para quem produz os conteúdos. Uma reportagem (escrita ou fotografada) ao pé da porta é facilmente desmistificada. Mas se for lá longe, noutro país e em zonas que os leitores não possam confirmar…
A ética, nos tempos difíceis da imprensa, não é uma questão primordial! Ainda há alguns, felizmente, que pautam a sua conduta por princípios éticos e respeitadores de códigos deontológicos. Mas não são todos. Nem os que produzem conteúdos nem os que controlam tiragens e vendas.

Mas também não me espanta que o trabalho fotográfico tenha sido premiado.
Se, por um lado e por aquilo que pude ver, até que estavam bem feitas as fotografias, o seu conteúdo está plenamente de acordo com os critérios do certame: tragédia!
Quem olhar para as fotografias premiadas ao longo dos anos no WPP constatará que a esmagadora maioria, nas diversas categorias, envolve sentimentos ou atitudes negativas: desastres, sobrevivências no limite, guerras, assassinatos, calamidades…
Não me recordo de ter visto muitas (foram muito raras, na verdade) sobre amor, abnegação, mera paisagem, objectos bonitos fabricados pelo ser humano…
Os critérios de escolha do WPP seguem os critérios dos editores e directores da imprensa: quanto mais sangue, mais drama, mais tragédia, melhor. Mais o público se sente atraído e mais se vende. E o jornalismo, fotojornalismo incluído, é um negócio.
No entanto, e olhando para as bancas dos jornais, vemos muitas publicações contendo excelentes fotografias. Revistas especializadas, como viagens, arquitectura, automóveis, cor-de-rosa… Existe todo um mundo de imprensa de qualidade usando reportagem fotográfica de qualidade e que é liminarmente excluído dos prémios do WPP. Lamentavelmente!
Assim, não me espanta que o trabalho agora excluído fosse o que foi: o lado negro de uma região.

Por tudo isto sou daqueles que recusa colaborar, com a sua presença, nas exposições do WPP. Não alimento a estatística da fotografia negativa ou exclusiva da tragédia!
No dia em que este certame decidir premiar também fotografias de reportagem positivas, em que também se mostre o lado bom do mundo e em pé de igualdade com o lado mau, lá estarei certamente. Deliciando-me com a qualidade das imagens que são apresentadas. E aprendendo com elas.
Até esse dia, ficarei à margem.

E desaconselho todos aqueles que comigo querem aprender algo sobre imagem a lá irem. Em particular os mais jovens.
Que é fácil alimentar o sonho ou a fantasia de adolescentes em torno de reportagens fotográficas deste calibre. E quanto melhor forem as reportagens mais entusiasmados eles ficam em querer fazer equivalente. E moldam a sua opinião e vontade em torno dos aspectos negativos da vida, como se fosse o assunto principal a retratar.
Não é!
E não será pela minha mão que ficarão com essa ideia.

Quanto ao mais, tenho o WPP ao mesmo nível que tenho os prémios Nobel da Paz, os Óscares ou o Festival da Eurovisão:
Jogos de interesse, materiais, filosóficos ou políticos, com massiva divulgação para atingirem os seus objectivos.

Na imagem: uma das fotografias, boa fotografia por sinal, a que foi retirada o prémio.

By me

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