Conheço o espaço há
muitos anos. É um daqueles restaurantes que me são de referência, conjugando
uma boa relação qualidade/preço com a extrema simpatia dos donos. E de quem lá
trabalha, por eles escolhidos.
Quando entrei
pouco passava da hora de abertura para jantar. Também é minha rotina ali, esse
horário. É sempre a hora mais pacata, antes das eventuais enchentes de clientes
em grupo que acontecem aos fins de semana e nas férias escolares. Ainda bem
para o negócio, que esteve a correr muito mais que mal quando a avenida esteve
em obras e só cá vinha quem já o conhecia. Como eu.
Depois de pousar
casaco, saco e chapéu, e ainda antes de pedir, fui tratar de lavar as mãos e
vejo entrar o fulano.
Com “mau aspecto”,
roupa enxovalhada, tal como o cabelo e a barba, com um copo de plástico na mão
e um olhar acossado, de medo.
Confesso que receei
o pior, com a sala vazia, e deixei-me ficar entre portas, a tentar perceber se
haveria que fazer algo ou se estaria tudo sob controlo.
E ouvi a sua voz,
de difícil percepção de tão baixo e mal pronunciada, perguntar se não teriam
alguma coisa de comer.
O empregado ou não
percebeu ou fez que não percebeu e fê-lo repetir por duas vezes a pergunta até
que veio a dona que, percebendo, disse logo que sim.
Pouco depois de eu
ter regressado à sala, vi que lhe trouxeram uma valente sandes, que me pareceu
ser um prego. E ele, com a mesma voz sumida e concordante com o olhar de medo,
perguntou se se podia sentar enquanto comia.
Como se vê pela
imagem junta, a resposta foi positiva e ele comeu rápido. Quase não tive eu
tempo para o registo.
Quando saiu, e com
a mesma voz difícil, agradeceu para a cozinha, onde estava quem lhe havia dado
de comer. Mas não sem antes ter arrumado a cadeira onde estivera sentado.
Não vou dizer o
nome do restaurante. Entendo que gestos destes devem ser publicitados mas não
fulanizados. E creio que a dona do restaurante pensa o mesmo.
Mas certamente que
aqui trarei gente, como tenho feito no passado, com a certeza de que aqui bem se
alimenta o corpo e a alma.
Viva quem faz!
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