sexta-feira, 27 de março de 2015

Viva quem faz! O segundo do dia



Conheço o espaço há muitos anos. É um daqueles restaurantes que me são de referência, conjugando uma boa relação qualidade/preço com a extrema simpatia dos donos. E de quem lá trabalha, por eles escolhidos.
Quando entrei pouco passava da hora de abertura para jantar. Também é minha rotina ali, esse horário. É sempre a hora mais pacata, antes das eventuais enchentes de clientes em grupo que acontecem aos fins de semana e nas férias escolares. Ainda bem para o negócio, que esteve a correr muito mais que mal quando a avenida esteve em obras e só cá vinha quem já o conhecia. Como eu.
Depois de pousar casaco, saco e chapéu, e ainda antes de pedir, fui tratar de lavar as mãos e vejo entrar o fulano.
Com “mau aspecto”, roupa enxovalhada, tal como o cabelo e a barba, com um copo de plástico na mão e um olhar acossado, de medo.
Confesso que receei o pior, com a sala vazia, e deixei-me ficar entre portas, a tentar perceber se haveria que fazer algo ou se estaria tudo sob controlo.
E ouvi a sua voz, de difícil percepção de tão baixo e mal pronunciada, perguntar se não teriam alguma coisa de comer.
O empregado ou não percebeu ou fez que não percebeu e fê-lo repetir por duas vezes a pergunta até que veio a dona que, percebendo, disse logo que sim.
Pouco depois de eu ter regressado à sala, vi que lhe trouxeram uma valente sandes, que me pareceu ser um prego. E ele, com a mesma voz sumida e concordante com o olhar de medo, perguntou se se podia sentar enquanto comia.
Como se vê pela imagem junta, a resposta foi positiva e ele comeu rápido. Quase não tive eu tempo para o registo.
Quando saiu, e com a mesma voz difícil, agradeceu para a cozinha, onde estava quem lhe havia dado de comer. Mas não sem antes ter arrumado a cadeira onde estivera sentado.

Não vou dizer o nome do restaurante. Entendo que gestos destes devem ser publicitados mas não fulanizados. E creio que a dona do restaurante pensa o mesmo.
Mas certamente que aqui trarei gente, como tenho feito no passado, com a certeza de que aqui bem se alimenta o corpo e a alma.


Viva quem faz!

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