Ontem, um pouco
antes da hora prevista, desci. Porque, e aconteça o que acontecer, há hábitos e
atitudes que nos estão por sob a pele, contra tudo e contra todos.
O táxi, cuja
marcação fora feita de véspera, ainda não tinha chegado. Não me preocupei:
sempre daria para um cigarrito, que a madrugada estava simpática.
A meio, surgiu o
carro. Vinha do lado oposto de onde o esperava.
“Deve ser novo
neste serviço”, pensei.
Joguei fora o que restava
do vício e subi. Após a saudação e antes que iniciasse a marcha, sugeri-lhe o
trajecto. Não que fosse muito importante ou que a distância seja muito
diferente. Mas hábitos são hábitos, tal como os gostos.
Contou-me ele que
já cá tinha vindo, talvez uns seis meses antes. Não se recordando bem do
caminho, tinha agora usado o GPS. E que, curiosamente, um dos aparelhos, novo,
lhe indicara este que eu sugeria. Mas que optara pela indicação do antigo.
Conversa vai,
conversa vem, e conta-me que umas duas semanas antes estivera quase a fazer
este serviço. Era o primeiro na praça e fora-lhe dado pela central. Mas que o
colega atrás se havia queixado de uma noite anormalmente fraca, com uma folha
quase a zeros, e que ele lho havia cedido para o ajudar.
“Talvez se recorde
dele: o Zé, um rapaz novo, bem disposto, preto, bem alto… Anda num carro igual
a este, que temos o mesmo patrão. Sabe, não sou egoísta.”
Recordei-me.
Recordei-me da cor
da pele, de incomum neste ofício. Recordei-me do seu tamanho, apesar de sentado
atrás do volante. Mas recordei-me, principalmente, do seu bom humor e
optimismo, com umas tiradas invulgares para a hora.
Percebi então o
porquê da anormal boa disposição.
Em chegando ao
destino, ontem, fui um pedaço mais além do habitual no arredondar as contas.
Sem explicações.
Este taxista, na
excepcionalidade do seu comportamento, merecia-o.
Costumo sair de
casa bem-disposto e de bem com o mundo. Faço por isso.
Ontem só o
consegui já a meio caminho do trabalho.
Obrigado!
By me
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