É sempre interessante observar a forma como
o espaço numa imagem é gerido. Quer se trate de um “Instantâneo” quer seja uma
imagem “Trabalhada”.
Pensemos no retrato.
Se abordarmos alguém desconhecido ou
semi-desconhecido e lhe pedirmos para o fotografar, a atitude ou pose assumida
é uma de duas: Apesar de o rosto e o olhar ficarem, as mais das vezes, frontais
para objectiva, o corpo (todo por inteiro ou só o tronco) pode ficar igualmente
de frente ou ligeiramente de lado, com um dos ombros mais à frente que o outro.
Ambas as atitudes são indicadoras de
personalidade e sentimentos no momento. E vale a pena pensarmos no motivo de
ser bem mais frequente o avançar o ombro esquerdo que o ombro direito.
Creio haver várias explicações sobre isso,
tanto de ordem fisiológica como psicológica, mas não irei aprofunda-las agora.
A outra possibilidade para retrato é sermos
nós (fotógrafos, cineastas ou videógrafos), a induzirmos ou organizarmos a pose
e atitude corporal. Mais de frente mais de lado, o rosto para aqui ou para ali,
o nariz mais assim ou assado… Se quem fotografamos for modelo profissional ou
recorrente, será fácil. Se não for, teremos bastante mais trabalho em conseguir
uma pose dita “natural”. Ou de acordo com o que imaginámos.
Se acrescentarmos aqui que o segundo plano
é pouco importante ou neutro, o comum é sugerirmos um ficar ligeiramente virado
para a esquerda do enquadramento. Não é uma norma rígida ou imposição estética,
mas prende-se com sentidos de leitura, tradições culturais e resquícios da
pintura.
Sabemos que, e no “mundo ocidental” esta
posição reforça a importância do retratado, criando uma imagem “fechada” por
oposição ao corpo ou rosto estar mais voltado para o lado direito do
enquadramento, conduzindo o olhar do espectador para fora da imagem e criando
uma imagem mais “aberta”.
São convenções, mais que muitas vezes
debatidas e executadas, que qualquer um batido no ofício conhece e usa. Com um
ou outro significado.
Em caso de dúvidas, vejam-se os retratos
oficiais de altas figuras do estado, geralmente encomendadas. Em Portugal ou
qualquer outro país ocidental.
Por tudo isso, e sabendo que são
especialistas que tratam da imagem de figuras políticas de topo, no poder ou
aspirantes a tal, que fico com “pulga atrás da orelha” quando vejo imagens destas
pessoas que fogem da normalidade. Quer se trate de imagens oficiais, de
campanhas eleitorais, de trabalhos fotográficos ou videográficos trabalhados.
E paro para pensar, seriamente, sobre qual
o objectivo e mensagem subliminar ali transmitida. Tentando enquadrar pessoa,
tempo e acontecimentos com a imagem mostrada.
Tal como fico a pensar sobre quem o
decidiu. Qual a intimidade e importância na vida e actividade de quem assim é
mostrado e qual o tipo de trabalho que lhe foi encomendado.
Isto porque, e apesar de existirem muitos e
muitos “trolhas” no mundo da comunicação visual, estas figuras de topo
cercam-se de bons profissionais, que “não dão ponto sem nó”. E eu gosto sempre
de saber com que nós me querem atar a uma mensagem escondida.
By me
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