domingo, 1 de fevereiro de 2015

A regra de ouro





A regra de ouro é um mito e um engano!
Tendo dito esta blasfémia (tal como poderia dizer uma outra, muito minha, em que afirmo que fotogenia não existe), passo a explicar:

Na antiguidade procurava-se encontrar na matemática explicação para o que rodeava o Homem, o universo, bem como as manifestações dos deuses. Algumas das regras e fórmulas que usamos no quotidiano ou na ciência mais complexa foram criadas ou derivam das que surgiram então.
Nesta busca da perfeição e do divino nos números surgiu, entre outros, o conceito do “Número de ouro”, valor constante que se encontra em inúmeras manifestações da natureza, desde a relação entre o comprimento e a largura de folhas de plantas à espiral do caracol, passando pela relação entre a altura do ser humano e a distância do umbigo aos pés.
Constatado isto, transpuseram-no para a representação: pintura, escultura, arquitectura. E afirmaram que esta era a fórmula do “Belo”, imutável e indiscutível como qualquer fórmula matemática.
As gerações de criadores e artistas que se lhes seguiram, ou porque não encontraram forma de refutar a matemática ou porque se basearam no classicismo, mantiveram esta afirmação como um dogma, repetindo a sua utilização nas suas obras.
E ao longo dos três últimos milénios, milhares de gerações foram sendo “educadas” esteticamente para aceitar esta como a forma pura de representação: nas escolas normais, nas escolas de arte, na arquitectura, na religião, na comunicação em geral, esta proporção foi sendo aplicada até para além do limite.
No entanto, como qualquer outro factor cultural, o gosto do ser humano depende daquilo que aprende e a que está habituado. Tal como a harmonia das cores ou a harmonia da música. Se viajarmos até à Índia, o luto assume a cor branca, uma ofensa à nossa sensibilidade ocidental. Tal como muitas outras culturas milenares que desconhecem o número de ouro.
Apesar disso, tenho para mim que a estética não é limitada a números (se bem que eles possam ajudar a normalizar os conceitos).
A estética depende das sensações de agrado e desagrado. E estas dependem do estado de espírito e das vivências de quem gosta ou desgosta.
Se a estética, aplicada seja lá a que forma de expressão ou comunicação for, dependesse em exclusivo de fórmulas matemáticas, não apenas se teriam já esgotado todas as combinações sublimes de criação plástica, musical, poética, como os publicitários estariam desempregados.

Entendo que a estética, tanto no acto de criação como no do seu desfrute, depende daquele “pequenino” factor que diferencia o Homem de uma máquina. O seu nome? Tantos quantas as culturas, crenças, história, tecnologias e modas. Há quem lhe chame “alma”!
Quanto à utilização do número de ouro ( φ=½(1+√5)≈1.618033989 ) serve, sem sombra de dúvida, para a comunicação de massas. Para que a mensagem emitida por um caia nas boas graças dos demais.
Eu, que trabalho todos os dias com a estética da comunicação de massas pela imagem, vejo-me demasiadas vezes no dilema de escolher entre aquilo que me agrada e aquilo que sei que agrada ao comum dos mortais: o público. Sou forçado a gerir o espaço e os seus elementos dentro dele de acordo com a “regra de ouro” ou, simplificada, a “regra dos terços”. Mas já perdi a conta das vezes em que, olhando para o meu trabalho que a respeita, não gosto. E se a corrijo para como eu gosto, sou olhado de lado por colegas e superiores.

Não! Comigo, e sei que com muitos outros, as regras e as formulas matemáticas aplicadas à comunicação e expressão pessoal não funcionam enquanto conceitos sacrossantos.
Talvez por ser agnóstico. Ou talvez por ter sido mau aluno em matemática.

By me

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