Suponho que já
aconteceu a toda a gente.
Estando a
descrever uma qualquer situação, oralmente, quem ouve dizer a dado passo
qualquer coisa como isto:
“Eh pah! Estou mesmo
a imaginar a cena.”
O que é
interessante é que o querem dizer com isso é que estão a “ver” o que está a ser
descrito. Até porque “imaginar” deriva do termo “imagem”.
Por outras
palavras, o relato está a provocar imagens mentais em quem ouve. Quer sejam imagens
restritas ao que está a ser dito, quer sejam objecto de acréscimos por parte do
ouvinte, baseados na experiência, e que complementam as eventuais lacunas das
descrição.
Temos, assim, que
a “mera” palavra (oral ou escrita) se complementa ou necessita da imagem para
ser absorvida ou entendida por completo.
Se na literatura é
deixado ao leitor a tarefa de criar essa imagem, na imprensa a imagem é vital.
Por um lado porque
não se pode dar azo a interpretações. Um golo é um golo, uma saudação é uma
saudação, um tiro é um tiro, uma morte é uma morte.
Para que a
imaginação – o criar da imagem mental – do leitor não se exacerbe, a existência
da fotografia (ou ilustração desenhada) ajuda a balizar o descrito, fornecendo
os detalhes visuais necessários.
Por outro lado, o
facto de já haver uma imagem – real – reduz a necessidade de descrições
escritas alongadas. Pode concentrar-se na contextualização do facto relatado, na
extrapolação das eventuais consequências ou na descrição daquilo que não coube no
espaço/tempo fotográfico.
Acrescente-se que
a existência de imagem – fotográfica ou outra – leva a que o artigo jornalístico
seja consumido em três tempos distintos: a primeira abordagem, em que a imagem,
sendo apelativa, rivaliza com o título para atrair o leitor; o segundo tempo,
em que o corpo da notícia – o texto – é lido e em que a imagem mental se vai
formando, condicionada desde logo pela imagem exibida; o tempo final, ou de
avaliação, em que a imagem impressa é de novo analisada, mesmo que de relance,
num espécie de confronto ou comparação entre a imagem real e a imagem mental
criada aquando da leitura.
Por fim, a questão
civilizacional. Não creio que exista alguém ainda vivo, remanescente dos tempos
em que os periódicos não continham imagens. A imagem impressa faz parte do acto
de ler um jornal ou revista e não o ter será tão estranho quanto o consumir
vinho sem álcool: a estória está relatada no texto mas falta-lhe o tempero do
costume.
Em
jeito de Post Scriptum, sempre se pode contextualizar a imprensa neste segundo
decénio do séc. XXI: o tempo disponível por parte do consumidor seja para que
actividade for, imprensa incluída, é cada vez menor. O incremento das fontes de
informação, com milhões de conteúdos (relevantes ou não) reduz o tempo dado a
cada artigo ou história. Um artigo contendo 800 palavras é demasiado extenso
para ser lido até ao fim por grande parte dos leitores. A fotografia (ou
infografismo) permite reduzir drasticamente a quantidade de texto,
complementando-o visualmente.
Claro
que este reduzir de texto limita em muito a capacidade de contextualização e análise
dos acontecimentos. E este fast-food informativo tem outras consequências
(nefastas quanto a mim) mas que não têm, agora e aqui, cabimento.
By me
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