A
estação estava bem mais vazia que isto. Muito mais.
Nem
estava com toda esta luz, que o relógio marcava umas 23.20h.
Tal
como não estava uma composição parada no cais.
Nem
sequer o episódio se passou no cais, mas antes na zona de bilheteira, no piso
inferior.
Aliás,
diga-se também, nada do que relatado aconteceu neste local mas num outro e em
sentido inverso na rotina do casa-trabalho-casa.
Chegava
eu àquela estação uns cinco minutos depois da passagem de um comboio. Àquela
hora, aconteciam a cada 30 minutos, pelo que não tinha pressa alguma. Nem eu
nem a mocinha que havia saído do autocarro junto comigo e que tinha o mesmo
destino.
De
cigarro na mão entrei na estação. Vazia. Ou quase. Que, junto a uma das
máquinas de venda de bilhetes alguma coisa acontecia. Entre o segurança de
serviço, um homem de uns trinta anos bem medidos e de uniforme habitual, e uma
senhora, já perto dos quarenta, nem bem nem mal vestida, de óculos grossos, carteira,
guarda-chuva branco alvo e lancheira verde e amarela. E um bilhete recarregável
na mão. E lágrimas na cara.
Curioso
(ou metediço) que sou, e não tendo pressa alguma, aproximei-me. O suficiente
para perceber o que se passava mas sem ser demasiado metediço. Claro que fui.
A
senhora chorava desalmadamente, acenando com o bilhete na mão e dizendo “E
agora como é que vou para casa? E agora?”
Raios!
Àquela hora, ou a qualquer outra, isso era problema sério. E cheguei-me,
perguntando “Avariou-se o bilhete, foi?” Não seria coisa rara.
O
discurso dela era pouco claro, por entre as lágrimas, mas entre o que disse e o
que completou o segurança (que já eu ouvira dizer “não posso fazer nada”), lá
percebi o drama.
Bilhete
recarregável, viagens durante o dia a mais, falta de saldo para pagar o
regresso.
E,
entre outras coisas, lá lhe percebi a estação de destino. E que havia perdido
este comboio que ainda fazia ligação com o autocarro. Coisa que o seguinte já
não faria. Mas que lá ainda iria a pé. Mas até lá…
Entendi.
Sempre eram umas oito estações, uma data de quilómetros para fazer a pé, fosse
a que horas fosse. Menos ainda àquela hora, depois de um dia de trabalho e com
um vento fresquinho.
Cheguei-me
à frente: “Limpe lá essas lágrimas que vai para casa. Ora mostre lá o bilhete.”
E, colocando-o no local da máquina, carreguei-o com a respectiva quantia. Não
chegava a dois euros.
Ficámos
os dois à espera do comboio no cais de embarque, no piso superior.
Para
além do agradecimento, fugaz, junto da bilheteira automática, não mais lhe ouvi
a voz. Nem nos partilhámos de forma alguma sequer numa carruagem. E lá a vi
sair na estação que referira, algumas antes da minha.
Não
sei ou desconfio o como irá resolver a questão, já que ontem foi dia 24,
terça-feira, e o dia 1 só acontece no fim-de-semana. E, com ele, a chegada de
salário.
Dizem
os nossos governantes que o país está melhor.
Não
se devem referir àquele em que vivo, que episódios destes continuam a ser
frequentes. Ou mais frequentes ainda.
Tal
como a fotografia não refere nem o local, nem a hora nem os intervenientes. Mas
eu ainda tenho motivos éticos e de pudor para tal resguardo.
By me
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