segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Em torno de uma fotografia de jornal





Esta fotografia aparece a acompanhar um artigo de um jornal on-line de hoje.
O título do artigo é “PSD. O partido do português comum que quer autoridade e sossego”. Está o artigo assinado por Ana Sá Lopes e não é referida a autoria da fotografia.
Não pude deixar de ficar com os olhos grudados na fotografia, nos diversos níveis de interesse que me provocaram: tanto de conteúdo como de forma.
Desde logo, e como não poderia deixar de ser, a relação do título com a pose do protagonista. Não terá sido coincidência, certamente.
Depois porque o texto da notícia disponível na net referencia a data de 1995. E não me senti confortável com isso. Não apenas a juventude do aparente centro de interesse da imagem, Cavaco Silva, como reconheço uma figura que está em segundo plano e que tenho por bem mais velho que a relação possível da imagem com a data.
Segue-se-lhe o ver aqui um repórter de imagem vídeo (que não reconheço, apesar de tudo) que veste fato e gravata em completa oposição a quase todos os fotógrafos presentes.
Naturalmente que a perspectiva é bem mais que interessante: não apenas está de frente para o protagonista como está de frente para todas as objectivas, numa posição privilegiada não apenas fotográfica como na acção. Quase que invisível o fotógrafo, ninguém lhe presta atenção pese embora aparentar estar num local que atrapalharia o trajecto do protagonista.
A isto acrescente-se que, à época, não havia ecrãs rotativos: o enquadramento fazia-se com o olho no visor e pronto. Ou, como parece ser este o caso, com a câmara subida e apontando “à zona”, provavelmente com motor para poder fazer várias de seguida. Em película, entenda-se, com tudo aquilo que significa o fotografar em sequência apenas com 36 fotografias possíveis antes de ter que mudar o rolo.
Claro que o enquadramento é brilhante: as posições de rosto e mão, num destaque perfeito contra o fundo, o posicionamento da linha de objectivas atestadas sobre o protagonista, reforçando a sua importância, até mesmo a figura dissonante em relação ao acontecimento, o agente da PSP, o único parado e de costas, mas fazendo o seu papel, cujo olhar, conjugado com o do protagonista, nos conta sobre a multidão que não está visível…
Indo mais longe ainda, e sendo certo que o Jornal I foi fundado em 2009, esta imagem foi repescada de um qualquer outro arquivo: comercial, do fotógrafo ou da própria autora do artigo.
Um aplauso ao autor da fotografia, lamentavelmente aqui anónimo. 

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