Num texto já com
uns anos escrevi que usava uma objectiva 70/300 para retratos.
Alguém estranhou
tal objectiva, de potente que eventualmente seja, e aqui irei explicar o
porquê.
Uma
das minhas preferências em fotografar desconhecidos é registar-lhes os olhos.
Só os olhos.
Isso
implica uma escala de reprodução muito razoável. O que significa:
-
o usar uma objectiva pouco potente e fazê-lo de perto;
-
o usar uma objectiva pouco potente, fazê-lo de mais longe e ampliar
posteriormente;
-
o usar uma objectiva potente.
No
primeiro caso, fazê-lo de perto, obriga a uma perspectiva próxima, resultando
muitas vezes num nariz abatatado. Além do mais, e tratando-se de desconhecidos
ou desconhecidas que abordo nas ruas ou parques, essa proximidade é pouco
relaxante, acabando por ser uma intromissão ou agressão.
No
segundo caso, uma imagem mais larga e ampliação posterior, acaba por ser uma
“mentira” ao fotografado. Não sendo fácil obter autorização para tal imagem,
costumo garantir que será apenas uma fotografia dos olhos ou pouco mais. E
costumo mostrar depois, para tranquilizar o modelo. Se fizer uma imagem de todo
o rosto, com uma objectiva menos potente e a uma distância confortável, terei
mentido, mesmo que só vá aproveitar os olhos.
O
terceiro caso, uma objectiva potente e a uma distância de trabalho “simpática”,
obsta aos inconvenientes anteriores.
Não
significa isso que a use em “300” por vezes fico-me pelos “200” ou “250”.
Por
outro lado, o andar “à caça de” olhos, com o que isso significa de abordagem a
desconhecidos com sucesso, não é muito complacente com o mudar de objectiva no
acto. Por vezes, a anuência é relutante e há que actuar antes que mude de
ideias. A rapidez de acção é vital.
Mas
há outro factor importante a considerar: o usar de uma razoável distância focal
para um retrato só de rosto dá-me duas vantagens técnicas:
-
Por um lado, o conseguir ter um fundo tão desfocado quanto possível. Sabemos
que a profundidade de campo depende da abertura do diafragma mas também – e
muito – da escala de reprodução. Fundo distante, objectiva potente e diafragma
bem aberto são as condições ideais.
-
Por outro lado, uma objectiva “potente”, com um pára-sol adequando, permite-me
trabalhar com o sol bem baixo, quase no limite do enquadramento, sem provocar
flares mas com uma iluminação de que gosto bastante.
A
tudo isto some-se um outro factor: os preconceitos. Na cabeça de muita gente,
uma câmara reflex com uma objectiva comprida é sinónimo de o seu portador ser
um profissional, ficando mais de parte a timidez natural de ser fotografado por
um desconhecido. Usar-se uma compacta ou uma reflex com uma objectiva pouco
comprida dá muito menos credibilidade, independentemente de quem a está a usar
e para que fim. Preconceitos estúpidos e, por vezes, perigosos, mas que
existem. E sabemos que parte do “trabalho” de quem leva a fotografia mais a
sério passa por relações públicas, muitas e boas relações públicas.
By me
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