Esta fotografia
tem alguma importância? Nenhuma!
Apenas que,
enquanto esperava por um comboio que me haveria de levar ao meu destino, me
recordei de um episódio, distante quase meio século dos dias de hoje.
Aconteceu ele numa
histórinha de quadradinhos a que hoje chamamos de Banda Desenhada. Não faço já
ideia de qual a colecção. Tanto poderia ser o Falcão como o Mundo de Aventuras
como o Condor. Por certo que não seria o Jornal do Cuto, nem o Pisca Pisca, nem
o Camarada, nem o Tintim. Contemporâneos, não faziam muito parte das leituras
semanais ou quinzenais lá da rua. E eram mais caros, se a memória me não falha.
E a memória também
não me diz quem seriam, em particular, as personagens envolvidos. Poderiam ser
vários, que vários eram os heróis que nos inspiravam nas nossas aventuras fantásticas
de ir até ao fim da rua ou, ousadia, passar para além da avenida. Claro que os
prédios em redor, ainda em construção, prestavam-se às maiores loucuras e as
fundações de uma escola por perto eram magníficas trincheiras. O que não tínhamos,
e isso tenho por garantido, era montadas. Nem as grandes e brancas dos heróis
de pistola ao cinto, nem as malhadas dos índios, sem sela nem laço… nunca foi
por lá grande hábito o cavalo de pau, vá-se lá saber porquê.
Mas a história, de
que me recordei e recordo, passou-se com isto: índios, cowboys, cavalos…
Estariam eles na
pista de alguém, um mau p’la certa. E se os cowboys seguiam a cavalo, o índio
pisteiro seguia a pé, olhando com atenção os indícios da passagem dos
perseguidos.
A certa altura terá
comentado um dos cavaleiros:
“Não seguiríamos mais
rápido se fossemos todos a cavalo?”
Recordo do
quadrinho onde o índio, de joelho em terra e cabeça voltada para os restantes,
afirmava:
“Vê melhor a pista
quem vai mais perto do chão”.
Nem uma nem outra
têm importância. Nem a histórinha nem a fotografia. Separadas que estão por
tanto tempo, difícil seria encontrar-lhes nexo. Excepto o fazerem ambas parte
daquele percurso a que chamamos de vida, ainda que com uma ponte temporal tão
grande a uni-las.
Mas certo é que ainda
hoje refiro, implícita ou explicitamente, esse índio, quando afirmo que sou
particularmente rico em vivências pelo facto de não ter carro ou mesmo carta de
condução.
E é garantido que
se eu me deslocasse de automóvel nunca teria a oportunidade de fazer esta
fotografia, que não tem importância alguma.
By me
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