segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Não é todos os dias

Vinha cansado.
O dia correra-me mal, com um conjunto de coisas que deram para o torto e uma sensação de vazio. Não apenas não conseguira fazer o que queria como o que não esperava avariou, redundando em inundação doméstica. E, em sendo fim-de-semana, nenhuma solução no próprio dia.
Assim, atravessei meia cidade em busca de um restaurante: não teria que cozinhar nem lavar loiça, nem sequer que pensar no que ingeria, que esta é a vantagem dos franshising de restauração – todos iguais.
Mas precisava de um objecto em particular para ilustrar o sentimento de vazio: um balão. E, da imensidade de tralha inútil que tenho por casa, este não é um item que conste.
Foi assim que entrei numa loja de artigos festivos, ilusionismo e circenses, em busca de um balão. Bastava-me um, ainda que meia-dúzia não fossem demais. Sempre ficariam na caixa de inutilidades desarrumada na dispensa doméstica.
No entanto, que horror! Pendurados no expositor, apenas sacos de cem balões. Para que quero eu uma centena de balões?!
E expus a questão ao jovem vendedor: Basta-me um, um só! E foi aqui que ganhei o dia!
Perguntando-me ele se só queria mesmo um e se seria de encher apenas ou de modelar, dirigiu-se a uma embalagem e, com as artes mágicas próprias da loja, retirou um sem a abrir. Entregou-mo e, com um sorriso, afirmou “Oferta da casa!”
Não sei se seria o meu ar de cansado, com as minhas longas barbas brancas e a minha pesada mochila num dos ombros. Não sei se pelo incomum do pedido. Não sei se seria um dia especial para ele. Mas a verdade é que, num centro comercial, numa loja de inutilidades e futilidades, me ofertaram um artigo em venda. Sem lucros ou mais-valias! Sem nada em troca que não fosse um sorriso!
O balão veio vazio, mas eu voltei a encher-me de fé nos homens. E, no lugar de ilustrar um artigo de frustração e neura, aqui fica num outro de positivismo e esperança.
Porque não sei quem terá ficado mais satisfeito com este pequeno episódio: se eu que o vivi, se ele por o ter provocado!


Texto e imagem: by me

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