domingo, 5 de setembro de 2010

Casa do Adro


Claro que, em havendo um “Adro da Igreja”, teria que haver uma “Casa do Adro”.
E se dermos com o primeiro, encontrar a segunda é mesmo só uma questão de rodar a cabeça, que lhe fica logo ao lado.
Bem cuidada de paredes, muros e jardim, cujas frondosas sombras falam da idade do edifício, este azulejo (vermelejo? amarelejo?) de singelo que é só pode ser bonito. Pena é que este, como tantos outros por esse país fora, deixem no anonimato o autor do desenho e a fábrica.
No entanto, aqui por estes lados não se deixam os créditos do que têm em mãos alheias. Passear nestas ruas velhas de Benfica de câmara fotográfica na mão, apontando para aqui e para ali, é quase que como ter um cartaz nas costas pedindo indicações. Numa mesma tarde, e com pouco mais de uma hora de intervalo, dois velhotes (que fizeram questão de não se deixar fotografar) trataram de me ir indicando algumas preciosidades do seu bairro. Quer fossem apontados com o boné, tirado para limpar a careca, quer fossem apontados com a bengala, que a outra mão segurava o saco de pão fresco da tarde, não deixaram de me ir dizendo que fosse fotografando antes que no lugar de azulejos, cornijas ou águas furtadas viessem apartamentos, garagens e escritórios.
Não conheço o bairro o suficiente para saber se tem uma “Transportadora Ideal” ou um “Café Central”. E sei que a única “Rua Direita” de Lisboa fica ali para os lados do Paço do Lumiar, agora com o nome de “Qualquer Coisa, Antiga Rua Direita”.
Mas espero que neste bairro de Benfica, bem como em todos os outros, não surjam placas com “Antiga…”, deixando aos seus residentes os tesoiros que possuem e de que se orgulham.

Texto e imagem: by me

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