terça-feira, 14 de setembro de 2010
Jogos de influência
Não estava nem bem nem mal disposto.
Vinha do almoço, o calor apertava e tinha levado uma “tampa” no tocante a uns olhos que queria fotografar. Mas não se pode ganhar sempre.
Eis que vejo esta carrinha estacionar como se vê: em cima do passeio. Tão ou mais caricato é que, do outro lado da rua, a esta hora, abundam os lugares vagos.
E estava eu a pensar se interviria ou não, quando vejo ultrapassar a carrinha, pelo asfalto, duas senhoras, uma empurrando um carrinho de bebé, acompanhadas por três pimpolhos com não mais de 5 ou seis anos.
Aí achei que tinha mesmo que fazer algo!
Dirigi-me ao motorista, ainda sentado ao volante e com uns vinte e tal de idade. Saudação regulamentar, um passo atrás e questionei-o sobre se tinha visto aquela grupo de gente a caminhar pela faixa de rodagem, que ele ocupava o passeio.
Com um sorriso, diz-me que sim, que havia visto.
Engolindo em seco, sugiro-lhe que, para evitar que se repetisse, que fosse ocupar os lugares vagos ali existentes.
Diz-me que não, que nem pensar, que estava ali para atender aquela loja e que não estava para carregar as encomendas através da rua.
Ainda lhe sugeri que, ao menos, ocupasse o asfalto e não o passeio.
Que não! Que ali estava bem e que quanto mais tempo eu ali estivesse à conversa com ele, mais tempo ficaria a bloquear o caminho aos peões.
Nada mais havia a dizer. Nova saudação regulamentar e afastei-me para fazer as fotografias habituais, enquanto ele saída da carrinha e tratava da sua vida. Tal como eu, que fui à minha.
Uns dez minutos depois, já eu estava na minha rua, vejo-o chegar. Tinha ido dar a volta ao quarteirão, que até é grande, em minha busca. Parou do outro lado e interpelou-me:
“Já que fez as fotografias, agora quero a sua identificação!”
“Obviamente que não! Identificado apenas na esquadra.”
Com um sorriso, convidou-me a entrar que seguiríamos para lá.
Entrar na carrinha seria o mesmo que “pedir festa”, pelo que lhe disse que sempre se poderia chamar o carro patrulha.
O sorriso rasgou-se-lhe de orelha a orelha e rematou, antes de seguir:
“Olhe, se lá for, não se esqueça de dar cumprimentos a Fulano de Tal. É o meu pai!”
Não fixei o nome. Fazê-lo ou anotá-lo seria garantir que lá iria e que daria um valente raspanete ao tal agente, pai de tal criatura, por ter nas ruas um filho assim.
Mas fica-me de memória a viatura e a carantonha do rapazola que pensa ter as costas e o resto quentes. Que, cedo ou tarde nos tornaremos a encontrar em circunstâncias semelhantes aqui no bairro. E, nessa altura, talvez seja mesmo necessário chamar a patrulha por via de um qualquer incidente rodoviário. Quem sabe?
Texto e imagem: by me
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário