sábado, 4 de setembro de 2010

Barbas


Que fazer?
Que fazer quando um grupo de três crianças, dos seus cinco ou seis anos, se nos dirige de corrida e nos saúda:
“Olá Pai Natal!”

Bem sei que as minhas barbas grisalhas estão grandes.
Sei igualmente que o meu cabelo está anormalmente grande, mais merecendo o apodo de trunfa, que há muito que não vê tesoura.
Também sei que esta confusão não é de todo anormal, mas costuma acontecer lá mais para Dezembro, e nas cercanias dos respectivos pais.
Agora num jardim, largarem os três a correr de junto da mãe de um deles que os acompanhava, e virem direitos a mim com esta!...

Em situações normais, lanço um sorriso meio amarelo, para os pais, tentando perceber até que ponto o mito ali existe. Em seguida, costumo dizer que não sou o Pai Natal, até porque não estou vestido de tal. Neste entretanto, a intervenção dos crescidos salva-me de mais embaraços, a conversa passa para os adultos com sorrisos ternurentos para os catraios e ficamos por ali.

Mas desta vez eram três, foram categóricos e os seus acompanhantes estavam longe. Para piorar as coisas, antes ainda de eu ter tempo de responder o que quer que fosse, o mais atrevidote sai-se com esta:
“Eu já sei o que quero de prenda! Posso pedir já? Posso? Posso?”
Foi o embaraço total! Desfaz-se o mito? Tira-se a alegria de um encontro imediato do terceiro grau?
Saí-me com um:
“Ainda é muito cedo! O Natal é só para Dezembro. Pergunta aos teus pais quando é.”
“Sim, e falta muito? Posso fazer já o pedido? Posso? Posso?”
“Tens que perguntar primeiro aos teus pais se podes. Além disso, eu não sou o Pai Natal.”
“Não!? É sim senhor!”
“Não sou não! Estou aqui para…”
Surge a voz salvadora e autoritária do poder materno, que afirma:
“Deixem lá o senhor em paz! Não é nada o Pai Natal! Não chateiem! Não vêem que é só um senhor de barbas brancas? Vamos embora!”

Foi a minha vez de ficar triste. Não apenas por as minhas barbas não serem brancas – são grisalhas! – como, e principalmente, pelo olhar desanimado dos petizes, que me tocou fundo.
Afastaram-se, mãe à frente, pequenos atrás, tal e qual os patinhos no lago ali ao lado. O mais reguila, no fim, cabisbaixo como os demais. Ao fim de meia dúzia de metros, olhou de novo para mim.
E eu, que estava ali especado, sem saber o que fazer, não resisti:
Um ligeiro aceno de cabeça e um piscar de olho.
Foi quanto bastou: a alegria estampou-se-lhe na cara, deu dois pulos e desatou a correr, passando pela mãe e continuando.

E eu fiquei na dúvida: terá ele entendido a brincadeira do tipo das barbas – grisalhas – ou ficou a acreditar que o Pai Natal lhe piscou o olho?
Em qualquer dos casos, eu fiquei a ganhar a tarde, seja qual for a cor das minhas barbas.


Texto e imagem: by me

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