segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Dois espaços
Ao fim destes anos que tenho, já perdi a conta às idas ao cinema.
Foram menos do que gostaria, mas horários malucos de trabalho não têm facilitado a coisa.
E sendo que um filme é um trabalho honesto de um colectivo – de técnicos a artistas – há que o respeitar. Estando o preço do bilhete pago por inteiro e a cadeira ocupada, o mínimo que podemos fazer é consumir cada fotograma e acorde, do genérico inicial às legendas finais. Sempre acordado, entenda-se!
No entanto, por duas ocasiões saí do cinema a meio. Tenho estes pecados na consciência e levá-los-ei para a cova.
A primeira vez foi no já extinto cinema Lumiar, perto da casa onde morava. Passava um filme com a biografia do General Patton, ilustre estratega da segunda guerra mundial.
Acontece que, creio que por motivos orçamentais, os carros blindados usados no filme eram exactamente os mesmos, quer se tratasse do exército norte-americano, quer se tratasse das forças alemãs. Limitavam-se a mudar as insígnias, da suástica para a estrela.
Foi demais para a minha capacidade de encaixe e, a menos de meio, levantei-me e saí. Não exigi o dinheiro do bilhete, ou pelo menos metade dele, mas não esqueci o barrete que havia enfiado.
A segunda vez foi aqui, neste cinema também de bairro: Turim. Faz muitos anos vim aqui com um casal amigo ver o filme “A história de O”. Filme erótico, de que conhecia a banda desenhada, um pouco pesado porque na linha do Sado-masoquismo, é certo, mas uma referência no género.
Pois a senhora amiga sentiu-se particularmente incomodada com o filme e saiu a menos de meio, arrastando consigo o marido. E eu, vendo-me na dualidade de acabar de ver o filme ou ser solidário com quem me acompanhava, acabei por sair também.
Esta saída intempestiva talvez tenha sido um castigo divino, por me atrever a ver tal heresia mesmo em frente à igreja.
Seja por isso, seja por se tratar de um cinema escondidinho num recanto, quase à esquina da estrada de Benfica com a avenida Grão Vasco, seja por este não ser o meu bairro de residência, a verdade é que nunca voltei a esta sala de cinema.
E tenho feito mal, que o consumo doméstico fica muito aquém de uma sala de cinema. E os de bairro, acima de tudo, devem ser acarinhados pelo esforço que fazem em nos pôr a sonhar perante o ecrã mágico.
Texto e imagem: by me
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário