Confesso que esta
foi original.
Eu tinha chegado
cedo. Não muito, mas o suficiente para me poder dedicar um pouco àquilo de que
gosto: ver o que acontece. No caso, no arco da rua Augusta em Lisboa, ver a
enormidade de gente forasteira que ali passa e tentar perceber quem de todos
eles faria uma fotografia realmente diferente.
Por aquilo que
pude perceber, ninguém. O mesmo arco com a estátua equestre em fundo, os mesmos
candeeiros de um lado ou do outro, as mesmas de grupo, selfies ou não… Incrível,
a quantidade de paus de selfie que ali vi. Aliás, vi três casais (talvez
existissem mais, mas só dei por três) em que ele transportava uma pesada DSLR,
full frame, com grip de baterias e sempre sem pára-sol, e ela uma pequena
compacta numa mão e um smartfone num pau de selfie na outra. Suponho que
regressarão a casa com uma enormidade de fotografias de recordação mas talvez não
tantas nos neurónios.
Em qualquer dos
casos, e sendo que não estava com pressa nem iria a lugar algum, decidi fazer
uma que talvez fosse diferente. Pelo menos daquelas que ali via fazer, que é
difícil ser-se original com aquelas pedras vetustas.
Colocando-me bem
ao centro do arco, que por sinal até tem o local assinalado no chão, apontar e
obturar para cima. Toda aquela geometria formal mo pedia.
Depois de ter
estado um nico a verificar o ponto e de ter feito o registo, sou abordado. A
conversa decorreu em francês mas, desculpem, se ler ainda me safo e se consigo fazer-me
entender falando (mal) nesta língua, não me peçam para o escrever.
“Olá! Você é o sr.
Paul Qualquercoisa?”
“????”
“Fala francês?”
“Sim, um pouco.”
“E não é o sr.
Paul Qualquercoisa?”
“Não, por acaso não
sou.”
“Mas não é do
Quebec?”
“Não, sou português
mesmo.”
“Aaaah. É que
estamos à espera de um compatriota e pensámos que fosse o senhor. Desculpe.”
“De nada. Tenham
umas boas férias.” E ele afastou-se para junto do seu grupo. Três casais.
Confesso que me
irrita solenemente ser abordado como forasteiro e noutra língua quando entro
num qualquer comércio, em particular de restauração. Que diabo! Por muito
importante que possa ser o dinheiro que os turistas por cá deixam, negligenciar
os autóctones, os nacionais, faz-me sair do sério. E quando me colocam, logo à
partida, a ementa em modo multilingue menos o português… Já tive uma ou duas
conversas menos simpáticas à conta disso.
Agora ser
confundido por turistas como turista na minha própria terra… Essa, confesso,
foi original.
Muito mais que a
fotografia que fiz, naturalmente.
By me
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