terça-feira, 1 de setembro de 2015

O arco



Confesso que esta foi original.

Eu tinha chegado cedo. Não muito, mas o suficiente para me poder dedicar um pouco àquilo de que gosto: ver o que acontece. No caso, no arco da rua Augusta em Lisboa, ver a enormidade de gente forasteira que ali passa e tentar perceber quem de todos eles faria uma fotografia realmente diferente.
Por aquilo que pude perceber, ninguém. O mesmo arco com a estátua equestre em fundo, os mesmos candeeiros de um lado ou do outro, as mesmas de grupo, selfies ou não… Incrível, a quantidade de paus de selfie que ali vi. Aliás, vi três casais (talvez existissem mais, mas só dei por três) em que ele transportava uma pesada DSLR, full frame, com grip de baterias e sempre sem pára-sol, e ela uma pequena compacta numa mão e um smartfone num pau de selfie na outra. Suponho que regressarão a casa com uma enormidade de fotografias de recordação mas talvez não tantas nos neurónios.
Em qualquer dos casos, e sendo que não estava com pressa nem iria a lugar algum, decidi fazer uma que talvez fosse diferente. Pelo menos daquelas que ali via fazer, que é difícil ser-se original com aquelas pedras vetustas.
Colocando-me bem ao centro do arco, que por sinal até tem o local assinalado no chão, apontar e obturar para cima. Toda aquela geometria formal mo pedia.
Depois de ter estado um nico a verificar o ponto e de ter feito o registo, sou abordado. A conversa decorreu em francês mas, desculpem, se ler ainda me safo e se consigo fazer-me entender falando (mal) nesta língua, não me peçam para o escrever.

“Olá! Você é o sr. Paul Qualquercoisa?”
“????”
“Fala francês?”
“Sim, um pouco.”
“E não é o sr. Paul Qualquercoisa?”
“Não, por acaso não sou.”
“Mas não é do Quebec?”
“Não, sou português mesmo.”
“Aaaah. É que estamos à espera de um compatriota e pensámos que fosse o senhor. Desculpe.”
“De nada. Tenham umas boas férias.” E ele afastou-se para junto do seu grupo. Três casais.

Confesso que me irrita solenemente ser abordado como forasteiro e noutra língua quando entro num qualquer comércio, em particular de restauração. Que diabo! Por muito importante que possa ser o dinheiro que os turistas por cá deixam, negligenciar os autóctones, os nacionais, faz-me sair do sério. E quando me colocam, logo à partida, a ementa em modo multilingue menos o português… Já tive uma ou duas conversas menos simpáticas à conta disso.
Agora ser confundido por turistas como turista na minha própria terra… Essa, confesso, foi original.

Muito mais que a fotografia que fiz, naturalmente.

By me

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