O texto que se
segue remonta a 2008.
Na altura, a assunto
foi razoavelmente falado nos jornais, nas TVs, nos cafés.
Depois, como tudo
o mais, caiu no olvido, que outras notícias vieram tornar esta velha.
Aqui deixo o tema e
o texto como o escrevi então, com a única ressalva de omitir nomes de pessoas e
instituições. Passados sete anos, importa o assunto e não quem o protagonizou.
No entanto,
parece-me que seria curioso saber até que ponto este episódio infeliz influiu
na vida dos que o viveu: a professora, a aluna do telemóvel e quem o gravou e
divulgou.
E o rapaz do vídeo
sempre foi punido com a sanção máxima: a mudança compulsiva de escola!
Eu não me queria
pronunciar sobre o tema. A este respeito já muito foi dito e feito e nem sempre
o mais acertado. Mas há um aspecto que ainda não vi debatido: ética e
juventude!
Na sociedade em
que vivemos, afirmarmo-nos como o melhor é uma necessidade. Não tanto por
aquilo que efectivamente somos mas antes parecê-lo como tal aos olhos dos
demais por atitudes ou posses. Não é muito importante o como o fazemos, mas
desde que tenhamos um lugar bem definido entre os melhores, está tudo bem!
Fabricantes e comerciantes
de artigos de consumo que não de primeira necessidade bem o sabem, e tentam
convencer os potenciais clientes da importância dos seus produtos. De como sem
eles não somos alguém digno de nota, marginais, anónimos, infelizes. Em
particular no que se refere à electrónica e às tecnologias de informação e
comunicação. Fotografia, vídeo, computadores, telemóveis e afins. Não há cão
nem gato que não os tenha ou, em alternativa, que não faça do desejo de os
possuir uma necessidade premente a satisfazer.
E, entre o público
potencialmente consumidor, as camadas mais jovens são os que mais se deixam
influenciar. E o alvo preferencial dos publicitários. Por um lado porque sempre
desejosos de experimentar as novidades, de todos os tipos. Por outro, porque
este, mais que qualquer outro grupo social, necessita de se afirmar: entre os
seus iguais e entre os adultos. É aquilo a que se chama “ter um lugar ao sol”!
E as tecnologias
surgem e evoluem mais depressa que os códigos sociais e éticos da sua
utilização. Algo de novo é para ser usado intensivamente e até ao limite, antes
que alguém diga que não se pode fazer ou que se transforme em obsoleto. As
regras e códigos de conduta criados pelos adultos, na sua “sabedoria” e na
necessidade que estes têm de impor restrições e condicionantes, são lentas a
acompanhar estas mudanças.
É assim que,
assistindo a uma situação insólita (confronto entre colega e professora) é
difícil de resistir ao seu registo, possuindo o equipamento para tal e da moda
(o telemóvel) e onde divulgar o inusitado evento (a internete).
Indo mais longe, a
profissão de jornalista é hoje muito cobiçada, bem como a de repórter de
imagem. É o que denuncia, é o que investiga, é o que comunica, é o herói das
TV’s, que se exibe, que vai a lugares estranhos, que lida de igual para igual
com figuras púbicas e de destaque.
Poder “brincar aos
jornalistas” tendo a oportunidade e meio e não o fazer será, assim,
contra-natura!
Claro que as
questões éticas sobre esta questão existem. Mas, para quem?
Um jornalista ou
repórter, se estivesse no local, certamente faria o mesmo registo. Portanto,
porque não o jovem?
Dirão que ele não
o poderia fazer, que há códigos de como e quando se podem fazer imagens de
terceiros e de como e onde se podem exibir.
Mas… será que ele
está informado, que conhece os códigos de conduta e dos limites de quem exerce
o ofício? E será que quem exerce o ofício de jornalista ou repórter de imagem
respeita as éticas e se coíbe de registar imagens em local não público e sem
autorizações? Onde termina o que é permitido a um jornalista ou repórter de
imagem e onde começa o que é interdito a qualquer outro cidadão?
No caso daquela
escola e das imagens captadas e divulgadas, tivemos uma adolescente, de 15
anos, que além de um acto de indisciplina teve um ataque de histeria perante a
confiscação do telemóvel.
Tivemos também uma
professora que não soube lidar com a situação e que deixou que uma disputa com
a aluna passasse a confronto físico e a indisciplina generalizada na sala de aula.
Mas também tivemos
o caso de um rapaz de 15 anos que fez o que vê fazer às figuras de referência
dos tempos que correm, provavelmente sem nunca ter ouvido falar ou ter sido
sensibilizado para a ética da recolha e divulgação de imagens.
Os códigos de
conduta não são inatos. Surgem das relações no grupo. E é na vivência do jovem
– humano ou não – que estes códigos são aprendidos.
É papel da escola,
em paralelo com a família, fazer passar estes códigos, fazer com que o aprendiz
aprenda o que lhe é permitido, o que lhe é interdito, a tomar decisões e fazer
julgamentos nas situações não aprendidas. Tudo isto quer seja por conversas
orientadas, quer seja na sequência de situações vividas.
Mas a escola não
forma os jovens para o uso e para a ética da imagem. Ainda que esta seja a
rainha dos tempos que correm, não lhes é dada a formação para com ela lidar
enquanto produtor ou consumidor.
Assim, como seria
possível que este rapaz soubesse que não poderia ou não deveria registar um
acto insólito acontecido num espaço a que se habituou a chamar de seu: a sala
de aula?
A sanção que lhe
foi aplicada não só é descabida como injusta. E desproporcionada. Porque o
erro, em havendo-o, não é dele mas de todos nós. Que lhe pusemos ferramentas
nas mãos mas não lhe explicámos até onde poderia ir com elas.
A escola, como
parte da sociedade, deveria usar este caso não para punir os intervenientes,
mas antes para repensar qual o seu próprio objectivo e método.
Porque se é para
preparar os jovens para a vida adulta activa, há que o fazer com as tecnologias
actuais e com as éticas adequadas. E fazer adaptar estas àquelas. E não apenas
como um repositório de conhecimentos tecnicamente correctos mas eticamente
vazios.
Por vezes, há que
saber pôr a tampa na objectiva!
By me
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