quinta-feira, 12 de junho de 2008

Um desejo!


Ao que parece, a paralização dos transportes pesados de mercadorias está mesmo para acabar. Estará por horas, a dar fé em notícias dos media on-line, a esta hora.
Mas lamento-o. Lamento-o profundamente e razões de vária ordem!
Junto com o bloqueio, acaba o triste espectáculo de ver os cidadãos a açambarcarem combustível, estando horas a fio em filas para atestarem os seus depósitos a fim de evitarem uma eventual falta generalizada. Claro está que nenhum deles pensa que a falta que se sente, no que toca a gasolina e gasóleo para automóveis se deve, principalmente, a esse açambarcamento. Que, se se tivesse consumido ao ritmo normal, e visto que a paralização estaria para acabar mais cedo ou mais tarde, os stocks nas gasolineiras não se esgotariam e não haveria esta escassez. É a regra do “cada um por si”, típica não apenas do português mas do ser humano que, sentindo-se em risco seja lá pelo que for, esquece de imediato (se alguma vez o lembrou) o grupo em que se integra.
Acrescente-se que este comportamento de ameaça remota e açambarcamento, com a consequente falta de combustível, é um pouco o que se passa no mundo inteiro. Só que, no lugar de faltar combustível, aumentam os preços da matéria-prima. A escalada do preço do petróleo que temos vindo a assistir nestes últimos tempos teve origem exactamente numa situação semelhante, em que o receio de uma eventual e remota possibilidade de falta na produção levou a que alguns, poucos, investidores começassem a comprar mais e a preços mais altos. Provocando uma bola de neve que todos vamos provando amargamente!
Por último, este bloqueio no sector dos transportes pesados e a consequente ausência de alguns produtos no mercado poderá ser uma boa oportunidade para que todos e cada um de nós pensemos e nos consciencializemos do peso que o petróleo tem nas nossas vidas, que este não durará para sempre e que, enquanto não temos soluções eficazes alternativas, bom será que tenhamos uma atitude de poupança, quer a nível energético quer a nível dos produtos que consumimos e dos hábitos de vida.
Basta olhar, nas migrações diárias em que todo o mundo se dirige para o trabalho ou para casa, e constatar que a esmagadora maioria das viaturas contem uma única pessoa e que o conceito da partilha do carro, com a comodidade e a economia daí resultante, é algo que não se pensa ou aceita. Muito menos deixar o carro à porta e usar os transportes públicos, que permitem uma garantia de regularidade e cumprimento de horários, bem como a leitura, a escrita, o tricot ou tão só o pensar e ver quem nos cerca, sem as preocupações de quem vai a conduzir.
Que o carro, para muitos, mais que um utensílio é uma afirmação social. E deixá-lo à porta é descer uns degraus na escala e ser-se inferior ao vizinho ou colega de trabalho.
Espero, sinceramente, que os sinais de acordo entre governo e camionagens não se confirmem e que esta paralização dure mais uns dias. Os suficientes para que o pacato do cidadão aprenda mesmo qualquer coisa com ela, que não seja olhar em exclusivo para o seu umbigo! E, quem sabe, descobrir novos prazeres na vida!


Texto: by me
Imagem: in RTP

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