segunda-feira, 16 de junho de 2008

Dificuldades de comunicação


Como se explica “CÔR” a um cego?
Esta foi uma pergunta que me foi posta por um mestre, há já muito tempo.
Nunca me debrucei muito, muito seriamente sobre a questão e nunca encontrei uma resposta satisfatória. É que acabo sempre por ir ter às teorias das energias, aos comprimentos de onda, às energias radiantes e térmicas e ao contra-senso de a nossas emoções serem opostas, em termos de calor, à realidade.
Talvez um dia mergulhe no problema e encontre uma solução mais fácil.
De igual dificuldade é explicar a um cego o que é a fotografia. Na sua bidimensionalidade, na sua ausência de valores térmicos reais e na sua dependência exclusiva da luz para ser feita e desfrutada.
Por tudo isto, se eu tenho pudor em fotografar um desconhecido à revelia do seu conhecimento, mais ainda o tenho para fotografar um cego. Que não poderá saber o que faço ou o resultado do que faço.

Igualmente difícil será explicar de que se trata o meu projecto “Oldfashion” a um surdo.
A dificuldade de comunicação é óbvia e certos detalhes ou subtilezas da questão pela certa que não saberei explicar.
Foi o que senti quando, por gestos e a alguma distância, expliquei a gratuitidade das fotografias a uma mulher surda-muda. Que estava curiosa e bastante interessada em fazer-se fotografar.
Só que teria que ser com o homem que a acompanhava, igualmente surdo-mudo. Que, contra todos os argumentos por ela apresentados, não queria posar.
E a discussão durou uns bons 15 minutos, ele sentado num banco de jardim, irredutível, ela de pé na sua frente, gesticulando com vigor. Com argumentos que, ainda que eu os visse, me escapavam por completo.
Ao contrário do habitual nestas trocas de opiniões, ele levou a dela avante e a fotografia não se fez. Grátis ou não. O olhar triste e o encolher de ombros que ela me lançou, quando se afastaram, foram bem esclarecedores do seu desapontamento.
Mas, para mim, foi como que um alivio. Ainda não tinha inventado o como lhes explicar o que ali acontece. Para além do recurso à escrita, claro. Mas nada me garantia que fossem portugueses, o que ainda iria complicar o caso, se o não fossem.
Espero que, da próxima vez que por ali passem, ela ganhe a contenda. Que seria peça rara no meu arquivo, uma satisfação para eles e um pôr à prova a minha capacidade de comunicação.
Felizmente são apenas surdos!

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