quinta-feira, 5 de junho de 2008

O elo 1


A história já tem alguns dias e, a dar fé no que AQUI li, até é repetida:
Terão sido encontradas no Amazonas profundo, perto da fronteira Peru/Brasil, aldeamentos de índios que não tiveram ainda contacto com o Homem dito “civilizado”.
Os avistamentos terão sido feitos de avião e, para o provar, ficaram as fotografias.
Ainda de acordo com a matéria lida, estas comunidades não são oriundas das zonas onde foram vistas, mas antes fugidas da desflorestação para cultivo ou extracção de madeiras.
Igualmente se contava que as autoridades Brasileiras estavam a envidar todos os esforços no sentido de manter estas tribos isoladas e afastadas da civilização, criando restrições a quem quisesse ir a estes locais.

Esta notícia provoca-me várias cogitações, pelo que conta por palavras e nos mostra com imagens.
Começando por estas, consta-se que os indígenas se sentiram ameaçados, quiçá com medo, e reagiram com a violência possível perante um avião, apontando-lhe arcos e flechas.
Presumindo que é verdade o seu desconhecimento do Homem-civilizado, menos ainda conhecem ou sabem o que seja um avião, por pequeno que seja. Então, o medo ou insegurança que sentiram não foi perante uma ameaça concreta, conhecida ou fruto de experiência anterior, mas tão só perante o desconhecido. Ao não conseguirem explicar o fenómeno visual e auditivo, a reacção foi de medo e reagiram agredindo ou tentando fazê-lo.
Poderemos tratar estes seres humanos de irracionais pelo simples facto de não saberem o que é um avião ou TV ou biblioteca ou armas de fogo? É que possuem armas elaboradas (arcos e flechas), constroem abrigos com transformação de matérias-primas (cabanas), possuem algum tipo de tabu (pois que, pelo que se vê nas fotografias, tapam as zonas púbicas), e até é provável que, de alguma forma, possuam divindades e respectivos rituais, talvez ligados à vida e à morte, à gestação, etc…
De irracionais nada terão, então!
Assim, o medo que tiveram foi resultado de uma incapacidade que sentiram de racionalizar o que constataram, tal como nós, os ditos civilizados, receamos ou tememos o escuro, a morte, os alienígenas.
Crianças e adultos, “civilizados” e “selvagens” reagem da mesma forma perante o desconhecido: medo e agressão!
Não é assim de espantar que a ficção, que materializa e exacerba pensamentos e afectos, aborde a eventual existência de seres de outros planetas como ameaças potenciais e que, tal como na realidade, preconize o “disparar primeiro e perguntar depois”!

Em contra-ponto com isto, recordo uma experiência pessoal, já com uns quantos de anos:
Num passeio numa zona serrana perto da capital, por alturas do raiar do dia, cruzou-se comigo numa estrada deserta uma doninha.
Ao vê-la estaquei e nem me atrevi a fotografar, não fora os meus gestos assustarem-na.
Por seu lado, o animal parou no meio do asfalto, farejou o ar e olhou para mim, através daqueles talvez nem dez metros, e deixou-se ficar por uns bons trinta segundos. Após o que retomou a sua marcha para a berma da estrada e desapareceu, sem correrias ou sobressaltos.
Durante aquele pedaço de tempo, entre mim, Homosapiens e racional, e a doninha, irracional e selvagem, não houve medo nem sensações de ameaça. Apenas curiosidade.

Pergunto assim: Quem poderá ser mais feliz? O Homem, com todo o seu conhecimento e civilização, nos seus diversos graus e que teme o que conhece e o que desconhece, ou os animais, que apenas reagem com medo ou violência perante ameaças concretas e conhecidas?
Não creio que sejamos os melhores do planeta!


Texto e imagem: by me

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