Este texto surgiu
na sequência do meu projecto “Old Fashion”: Um photógrapho “à-là minuta”
fotografa e oferece as fotografias a quem lho pede no Jardim da Estrela, em
Lisboa.
As bem mais de um
milhar de imagens feitas são, do ponto de vista plástico, monótonas, tecnicamente
fracas e esteticamente desinteressantes. Mas este não era o meu objectivo.
Importante mesmo
foram as poses assumidas pelos fotografados, as conversas tidas antes e depois,
os “quem” e os “porquê” de se querem fazer fotografar.
Felicidade
O ser humano
precisa de se afirmar no grupo a que pertence. Pelo que é e pelo que faz.
E um retrato, um
registo para a posteridade, feito formalmente ou em tom de brincadeira, é uma
forma de afirmação, objecto de observação e critica cerrada por parte do
retratado.
Curioso é de
observar quem se manifesta ou critica sobre o que é ou o que faz expresso em
retrato. E são dois grupos, notoriamente distintos. A fronteira fica algures na
casa dos quarentas, nuns casos mais acima, noutros mais abaixo.
No grupo dos mais
novos, o que é observado e/ou criticado é aquilo que faz.
As poses, as
expressões, as posições corporais, os relacionamentos com outros retratados.
O eventual – ou
frequente – desagrado não se manifesta sob a forma de “não gosto” ou “fiquei
mal”, mas antes pela ironia, pelos comentários jocosos, pela auto-critica.
Frequentemente, com o menosprezo da sua própria aparência e uma crítica
acutilante sobre os demais no grupo retratado.
Para estes, o que
é importante num retrato não é o que são mas antes o que fazem e como o fazem.
Por seu lado, os
pertencentes ao grupo mais velho preocupam-se francamente mais com o que são ou
aparentam ser.
As manifestações
de idade constatáveis pelo peso ou volume, pela posição do esqueleto, pela cor
da pelagem ou pelas rugas são os factores que mais procuram ver num retrato,
numa tentativa inútil de constatar que não parecem ser o que são. Que os olhos
dos outros não vejam aquilo que sabem ser.
Estou em crer que
a felicidade passa por uma sã convivência com o “Eu” físico, tentando
melhora-lo se se o entender, mas não o negando ou repudiando.
E, acima de tudo,
não ligando a mínima à opinião que os outros possam ter sobre si mesmo. Ao vivo
ou no papel.
By me
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