Quase no limiar da audição, embalava-me a chegada do sono e
era a primeira coisa que me relacionava com o mundo, ao acordar. Numa época em
que todos os dias havia algo de diferente a considerar neste país.
Uma manhã acordei com uma frase citada pela estação que havia
ficado sintonizada. Não sei se despertei porque a ouvi ou se a ouvi assim que
despertei. Pouco importa.
Sei, antes sim, que tratei de saltar de imediato da cama e ir
anotá-la, não fora esquecer-me dela. E, umas horas depois, estava escrita em
letras grandes numa folha de papel afixada no interior da porta de casa: seria
a última coisa a ver ou ler antes de sair.
Hoje vivo noutra casa, com outra porta e outros dizeres. E o rádio,
desde esse dia, deixou de ficar ligado toda a noite.
A frase, atribuída a Almada Negreiros e guardada para sempre
na memória, era a seguinte:
“Não sou optimista nem pessimista!
Entre mim e a vida não há mal-entendidos.”
By me
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