Fazemos coisas que
queremos e coisas que não queremos.
Destas últimas
são, por exemplo, o lavar da loiça, o pagar impostos, o suportar as filas de
trânsito.
Não as queremos
fazer mas é difícil (só difícil) fugir a elas.
Já das que
queremos, pode-se referir tomar banho, amar ou, no meu caso, fotografar.
E se do banho não
há motivo para ter orgulho, mas tão só a satisfação posterior, no amar também
não há motivos para estarmos orgulhosos, excepto no que toca a sentirmos e
sermos. Já a fotografia é motivo de orgulho. Aquilo que faço é o resultado do
meu esforço, nem sempre bem sucedido, mas sempre de vontade. E conseguir
superar-me e ir mais longe hoje que ontem é motivo de orgulho.
Mas há outras
coisas que faço porque quero e porque a isso sou obrigado e das quais pouco, se
algum, orgulho tenho. Uma delas é o ser cidadão e fazer questão de o ser.
A cidadania não se
limita ao acto eleitoral, ao manter as ruas limpas e cumprimentar quem passa.
Passa por se ser interventivo, participativo, contestatário e solidário, ter
opinião e fazer questão de ser coerente, passa por ser e não apenas estar.
E isto é algo que
quero mas também ao qual me sinto obrigado. Não o fazer, mesmo que uns dias de
uma forma mais visível e outros bem mais discreto mas não menos frutuosos, é
renegar aquilo que sou e aquilo que quero ser. É não fazer aquilo que quero e
aquilo a que me sinto obrigado, bem para além de leis e governos.
De ser mais que
estar não me orgulho. Sou, ponto final. Tal como sou barrigudo. Sou.
O único orgulho
que pode advir deste ser é o constatar resultados disso. Não me orgulho de
atravessar a velhinha na rua. Mas orgulho-me que ela possa lá estar. Não me
orgulho das aulas que dei, mas tenho um orgulho imenso do sucesso dos alunos.
Não me orgulho de levar jovens a uma manifestação, mas fico inchado de os ver a
manifestarem-se porque percebem e acreditam no que diz e faz.
Há quem se orgulhe
do carro que tem, do emprego que conseguiu, das férias que fez, da corrida que
ganhou. O meu orgulho surge do que me sai das mãos, tendo por único adversário
eu mesmo e os meus próprios limites.
O resto é porque
quero e porque me sinto obrigado a isso.
By me
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