“Comida!”
Foi o comentário
instintivo de um compincha, quando lhe mostrei esta imagem.
É certo que ele
tem um sentido de humor e de oportunidade invulgares, e há dias em que o seu
lado corrosivo está particularmente acutilante.
Mas parece-me que
só uma observação deste calibre será possível perante esta imagem. Tanto mais
que na zona onde foi feita – o meu bairro – não existem instalações onde os
consumidores habituais de tal iguaria residam. Pelo menos, e ao que sei, num
raio de uns três ou quatro quilómetros.
Fica, assim, a dúvida
no ar: estaria o petisco fora de prazo para que tivesse que ser jogado fora?
As normas criadas
pelos decisores das modernas urbes procuram esconder e retirar do quotidiano o
que é “feio”. Resíduos, estendais, árvores às quais se possa subir, terra
batida para as covas dos guelas… tudo o que não encaixe nas harmonias matemáticas
das cores, formas e funções.
Mas a sensação que
tenho ao caminhar nessas zonas ou bairros é a de um hospital: limpo, sem germes
ou doenças, agradável à vista e ao ouvido, parecendo ser convidativo ali viver.
Mas sem vida.
Sem vida própria,
impedidos que estão os residentes de exteriorizar os seus próprios apetites e
vontades, de mostrar que existem e que são todos diferentes.
É muito mais
divertido passear em bairros suburbanos como o meu.
By me
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