quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Comida

“Comida!”
Foi o comentário instintivo de um compincha, quando lhe mostrei esta imagem.
É certo que ele tem um sentido de humor e de oportunidade invulgares, e há dias em que o seu lado corrosivo está particularmente acutilante.
Mas parece-me que só uma observação deste calibre será possível perante esta imagem. Tanto mais que na zona onde foi feita – o meu bairro – não existem instalações onde os consumidores habituais de tal iguaria residam. Pelo menos, e ao que sei, num raio de uns três ou quatro quilómetros.
Fica, assim, a dúvida no ar: estaria o petisco fora de prazo para que tivesse que ser jogado fora?

As normas criadas pelos decisores das modernas urbes procuram esconder e retirar do quotidiano o que é “feio”. Resíduos, estendais, árvores às quais se possa subir, terra batida para as covas dos guelas… tudo o que não encaixe nas harmonias matemáticas das cores, formas e funções.
Mas a sensação que tenho ao caminhar nessas zonas ou bairros é a de um hospital: limpo, sem germes ou doenças, agradável à vista e ao ouvido, parecendo ser convidativo ali viver. Mas sem vida.
Sem vida própria, impedidos que estão os residentes de exteriorizar os seus próprios apetites e vontades, de mostrar que existem e que são todos diferentes.

É muito mais divertido passear em bairros suburbanos como o meu.    

By me

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