quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Apontamentos lúmicos na inutilidade das rotinas



Calhou, hoje, almoçar sozinho.
Enfim, o termo “sozinho” será um exagero, já que o local onde almocei estava apinhado de gente. Hoje mais do que é normal. Bem mais.
Mas as gestões de trabalho e equipas a isso me levaram e não fui num grupo como de costume.
Enquanto esperava na fila, tal como depois sentado em frente ao tabuleiro, fui adiantando um pouco na leitura que tenho em mãos. Bem mais saudável, digo eu, que com o nariz enfiado numa qualquer rede social. E útil, acrescente-se.
Trata-se de “Viagem à volta do meu quarto”, de Xavier de Maitres, e a forma como está organizado permite estes mergulhares curtos. Mas absorventes e deliciosos.
Num dos capítulos, e na sequência da descrição de um quadro a óleo na parede, leio este pedaço:

“Mas supondo que o mérito da arte é igual de um e de outro lado, não deveríamos apressar-nos a concluir sobre o mérito da arte pelo mérito do artista. – Vêem-se crianças a tocar cravo como grandes mestres; nunca se viu um bom pintor de doze anos. A pintura, além do gosto e do sentimento, exige que se pense, o que os músicos podem dispensar. Vêem-se todos os dias homens sem cabeça e sem coração a tirar de um violino, de uma harpa, sons maravilhosos.
Pode ensinar-se o animal humano a tocar cravo, e quando ensinado por um bom mestre, a alma consegue viajar à vontade, enquanto os dedos vão maquinalmente produzir sons nos quais ela não se envolve. – Ao contrário, não se pode pintar a coisa mais simples do mundo sem que a alma se empenhe nisso com todas as suas faculdades.”

É interessante como este escritor disse isto nos finais no séc. XVIII. Aquilo que eu mesmo venho defendendo faz tempo:
Que a comunicação visual, fotografia incluída, é algo que exige uma vivência que não é ainda própria do jovem, criança ou adolescente. Ao contrário do que sucede com a comunicação sonora, música incluída.
Quanto à imagem… foi exactamente o que vi e fotografei, sem enfeites posteriores, em saindo do escuro do posto de trabalho para o almoço a solo e enfrentando o dia solarengo.


(Nota adicional: a tal luz…)

By me

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