É
um erro comum, infelizmente: confundir-se democracia com liberdade.
A
primeira tem a sua origem na antiguidade grega e define a governação através de
cidadãos passíveis de serem eleitos entre os seus pares. A raiz do termo
prende-se com o conceito de governação pelo povo e para o povo.
Já
liberdade é a possibilidade de se pensar, exprimir e agir de acordo com a sua
própria consciência. Bem mais que uma questão de regras ou leis, é uma forma de
se estar na vida, mesmo que dentro de uma cela.
Muito
curiosamente, quem criou a democracia definiu como passíveis de serem eleitos
apenas os membros de uma elite: homens, livres e nascidos de homens livres,
nascidos e criados naquele território. Estrangeiros, mulheres e escravos não
faziam parte do “povo” elegível.
Hoje
é semelhante.
Os
eleitos para governar, mesmo que por sufrágio universal ou por um colégio
eleitoral, não pertencem ao povo. Podem por ele ser eleitos, mas não lhe
pertencem.
Não
sabem o que é passar fome para que o filho coma; não sabem o que é não ter vaga
para uma consulta médica ou tratamento; não sabem o que é não frequentar
escolas privadas ou universidades, mesmo que públicas, porque não há como as
pagar; não sabem o que é um autocarro ou comboio cheio de gente a deitar por
fora, e ficar gente em terra sem poder entrar; não sabem o que é chover-lhes em
casa; não sabem o que é ter que suportar os rigores do início do Inverno porque
se espera pelo natal para se comprar o agasalho (se houver subsídio de natal);
não sabem o que é serem considerados velhos aos 40 e não encontrarem como
ganhar a vida; não sabem…
Os
eleitos, parlamentares ou ministros, não sabem nada disso, não pertencem ao
povo mas tão só a uma elite, endinheirada e herdada, onde só acedem os
estranhos se souberem ganhar dinheiro à custa dos outros, com especulações
sobre propriedades, leis, ou trabalho de terceiros.
Se
tivessem a possibilidade de ver agir essa elite fora das câmaras ou dos palcos,
como eu tenho; se tivessem a possibilidade de ouvir essa elite longe das multidões
ou dos microfones, como eu tenho; se tivessem a oportunidade de saber como os
duelos públicos são combinados no privado, como eu tenho; se pudessem saber
como são, na realidade, esses governantes de elite… teriam, como eu tenho, uma
opinião muito, mas muito pouco abonatória sobre a grande maioria deles.
Naturalmente
que alguns há que procedem do povo. E alguns há que, não procedendo do povo,
governam e legislam em prol do povo exclusivamente.
Mas
são tão poucos, na sociedade que conhecemos nas últimas dezenas de anos neste
país, que se pode afirmar, sem margem para erro, que são a excepção que
confirma a regra.
Serão
fáceis de identificar uns e outros: bastará seguir as suas vidas privadas e profissionais
quando abandonam a vida pública e política. E ver os proveitos que retiraram
(ou não), para si e para os seus familiares e amigos.
Quanto
ao resto, repito-me: chamar alguém de “membro do governo de Portugal” é um dos
piores insultos que posso conceber.
By me
1 comentário:
Muito bom!
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