segunda-feira, 14 de abril de 2014

Opinião



É um erro comum, infelizmente: confundir-se democracia com liberdade.
A primeira tem a sua origem na antiguidade grega e define a governação através de cidadãos passíveis de serem eleitos entre os seus pares. A raiz do termo prende-se com o conceito de governação pelo povo e para o povo.
Já liberdade é a possibilidade de se pensar, exprimir e agir de acordo com a sua própria consciência. Bem mais que uma questão de regras ou leis, é uma forma de se estar na vida, mesmo que dentro de uma cela.
Muito curiosamente, quem criou a democracia definiu como passíveis de serem eleitos apenas os membros de uma elite: homens, livres e nascidos de homens livres, nascidos e criados naquele território. Estrangeiros, mulheres e escravos não faziam parte do “povo” elegível.
Hoje é semelhante.
Os eleitos para governar, mesmo que por sufrágio universal ou por um colégio eleitoral, não pertencem ao povo. Podem por ele ser eleitos, mas não lhe pertencem.
Não sabem o que é passar fome para que o filho coma; não sabem o que é não ter vaga para uma consulta médica ou tratamento; não sabem o que é não frequentar escolas privadas ou universidades, mesmo que públicas, porque não há como as pagar; não sabem o que é um autocarro ou comboio cheio de gente a deitar por fora, e ficar gente em terra sem poder entrar; não sabem o que é chover-lhes em casa; não sabem o que é ter que suportar os rigores do início do Inverno porque se espera pelo natal para se comprar o agasalho (se houver subsídio de natal); não sabem o que é serem considerados velhos aos 40 e não encontrarem como ganhar a vida; não sabem…
Os eleitos, parlamentares ou ministros, não sabem nada disso, não pertencem ao povo mas tão só a uma elite, endinheirada e herdada, onde só acedem os estranhos se souberem ganhar dinheiro à custa dos outros, com especulações sobre propriedades, leis, ou trabalho de terceiros.
Se tivessem a possibilidade de ver agir essa elite fora das câmaras ou dos palcos, como eu tenho; se tivessem a possibilidade de ouvir essa elite longe das multidões ou dos microfones, como eu tenho; se tivessem a oportunidade de saber como os duelos públicos são combinados no privado, como eu tenho; se pudessem saber como são, na realidade, esses governantes de elite… teriam, como eu tenho, uma opinião muito, mas muito pouco abonatória sobre a grande maioria deles.
Naturalmente que alguns há que procedem do povo. E alguns há que, não procedendo do povo, governam e legislam em prol do povo exclusivamente.
Mas são tão poucos, na sociedade que conhecemos nas últimas dezenas de anos neste país, que se pode afirmar, sem margem para erro, que são a excepção que confirma a regra.
Serão fáceis de identificar uns e outros: bastará seguir as suas vidas privadas e profissionais quando abandonam a vida pública e política. E ver os proveitos que retiraram (ou não), para si e para os seus familiares e amigos.


Quanto ao resto, repito-me: chamar alguém de “membro do governo de Portugal” é um dos piores insultos que posso conceber.

By me