Foi
já há uns anos valentes. Estava em Barcelona e tinha comigo uma mocinha de onze
anitos, filha de um casal amigo, que eu desafiara a ir até lá.
Um
dos locais que visitámos, entre outros equivalentes, foi o Museu Picasso, onde
eu, à guisa de guia, lhe ia explicando o que por lá havia, do pouco que sei.
No
final, e em jeito de “revisão da matéria dada” que sempre fazia, perguntei-lhe
o que mais havia gostado. A resposta deixou-me espantado, mas rapidamente a
entendi:
“Dos
quadros que pintava como as pessoas, quando era pequeno”
Faz
sentido!
Vivemos
num tempo em que a Imagem é rainha, de consumo rápido e pouco aprofundado. E
quando ela, quer seja fruto da objectiva quer seja resultado de um pincel,
obrigar a reagir especificamente, emotiva ou racionalmente, tentando
descortinar o seu significado, desagrada à maioria do público.
Na
imagem dita “real” (cinematográfica, videográfica ou fotográfica) isto ainda é mais
notório.
Espera-se
que seja “uma cópia da realidade” com contornos e assuntos reais e definidos,
de fácil e imediata interpretação. E, perante uma imagem pouco definida porque
desfocada, tremida, escura ou detalhada no micro ou macro cosmos, a pergunta
surge, quase que invariavelmente: “O que é isto?”
Temos
uma necessidade imperiosa de identificar, de catalogar, de interpretar tudo
aquilo com que nos relacionamos, para só depois reagir com emotividade,
gostando ou não. É confrangedor.
Porque,
tratando-se de formas de comunicar, mas também de exprimir, necessita o seu
autor normal de ter algum tipo de reconhecimento no seu trabalho. E quando a
pergunta surge, deixando de parte as emoções e procurando a racionalidade, fica
a comunicação comprometida. E, na esmagadora maioria dos casos, sobrevém algum
tipo de frustração do autor.
A
menos que este rompa com os cânones e decida pouco se importar com o
reconhecimento. Deixando de parte a vertente comunicacional da imagem,
importando-se primordialmente com o factor de expressão:
Aquela
imagem, seja qual for o suporte ou técnica, corresponde ao que pensa ou sente.
E pouco importa se os demais a entendem. Ou gostam.
Poucos
são os que o fazem.
Formatados
nas tecnologias de informação, nos padrões instituídos, na globalização da
produção, imagem incluída, procura-se agradar aos seus iguais, usando de técnicas
e estéticas padronizadas e testadas.
A
experimentação, o deixar que as emoções interiores sobrevenham para além dos códigos,
o encontrar satisfação no que se produz para além das opiniões do público, o
usar da técnica em prol da alma e não de terceiros… é algo que poucos se
atrevem a fazer.
Porque
dá trabalho; porque exclui socialmente; porque obriga a pensar e sentir; porque
é arriscado.
Numa
sociedade em crise, de matéria e de valores, ser diferente é algo reservado
apenas a dois tipos de pessoas: os que têm posses ou nome suficiente para serem
reconhecidos por eles e não pelo que fazem; ou por aqueles que optam pelo seu
próprio caminho, deixando de parte regras e imposições académicas ou
industriais.
By me
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