sábado, 5 de abril de 2014

Espaço público



É um fenómeno que nada tem de novo.
Os portugueses cedo adquiriram o hábito de fazer dos centros comerciais os seus centros de encontro.
Vieram eles substituir a praça pública, quer fosse no largo da igreja, quer fosse no terreiro de festas, quer fosse mesmo em frente do tasco. Os centros comerciais, com as suas montras, zonas de restauração e de lazer (pagos, naturalmente) vieram desde há muitos anos a transformar-se num local público.
Mas apenas para os portugueses, ávidos da modernidade e consumismo.
Outros cidadãos que por cá residem não o fazem. Alguns continuam a usar o espaço realmente público como local de encontro, de troca de ideias, referências nas vivências.
Um deles, nas zonas suburbanas, são as estações de caminho-de-ferro. As novas, entenda-se.
Servem elas de zona de atravessamento da linha sendo, portanto, considerado espaço público e aberto todas as horas do dia. E possuem, como esta, bancos como sala de espera, avisos, telefones, relógio… um pouco como acontecia no largo da igreja ou em frente à tasca.
Este centrar o convívio nestes locais é maioritariamente praticado por oriundos do continente africano. Talvez porque não há recursos para compras; talvez porque a vida de rua é uma tradição; talvez por ser um local neutro por um lado e territorialmente definido por outro.

O que se torna estranho, nos tempos que correm, é ainda ver os telefones aqui colocados em funcionamento. O recurso aos telefones moveis é generalizado e, mesmo que falte para outras coisas, o saldo telefónico mantém-se. Mas estes postos públicos continuam e em bom estado de funcionamento, mesmo que vão sendo retirados das ruas e esquinas.
E no meu bairro se os de rua raramente têm uso,  já estes… pelo menos umas duas a três vezes por semana os vejo a ser usados, no escasso tempo de passagem quando vou ou regresso do trabalho.
Ao contrário de algumas correntes em moda na Europa e por cá, a miscigenação é uma mais valia para todos. E o voltarmos a ter e a usar locais públicos à margem de consumos e pagamentos é excelente. 


Nota extra do fotógrafo: a dificuldade nesta imagem não foi nem a luz nem a perspectiva. Foi conseguir um momento em que ninguém estivesse em campo.

By me 

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