quinta-feira, 2 de junho de 2016

Semântica ou talvez não



Esta fotografia foi feita por um conhecido. Com o meu telemóvel.
Na sequência da conversa que estávamos a ter, entreguei-lhe o aparelho pronto, disse-lhe para segurar nele e premir o respectivo “botão”.
De seguida perguntei-lhe o que acabara de acontecer. E a resposta foi a do costume: “Tirei uma fotografia.”
Neguei a sua afirmação e disse-lhe que acabara de fazer de deus. Um deus qualquer, não importando o nome ou a origem.
Que com os seus gestos, e usado de três tipos de energia (a da luz, a do aparelho e a sua criativa) havia produzido algo que não existia segundos antes. E é isso que os deuses fazem: criar do nada a partir de energia. Fazer coisas!
A consequência dos actos deste meu conhecido foi o “fazer” de uma fotografia, não o “tirar” uma fotografia.
Que temos o verbo tirar como negativo, enquanto que o fazer é positivo.

Tenho feito este exercício prático com conhecidos de proximidade e com desconhecidos que o acaso coloca de conversa comigo.
E o resultado deste exercício, bem como do resto da conversa, em regra deixa-me satisfeito. O que vejo nos seus olhos, quer seja a dúvida do “isto será mesmo assim?”, quer seja a dúvida “ele será mesmo louco?” deixa-me com a certeza de ter provocado alguma dúvida e uma brecha nas certezas que as palavras nos dão, em particular aquelas que usamos sem pensar.

E ter dúvidas ou colocar em causa as certezas antigas é, talvez, a coisa mais inteligente e produtiva que o ser humano pode fazer.

By me 

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