domingo, 5 de junho de 2016

Do sobre a utilização da imagem fotográfica – parte 5



“Quando chegaram, vinham a medo.
Deixaram-se ficar de lado, enquanto eu falava com outro casal, cochichando entre si mas sem se aproximarem. Só quando fiquei sozinho se aproximaram.
No início da conversa achei um pouco estranho as suas atitudes, que queriam fazer uma fotografia, como era habitual, mas havia algo que não batia certo.
Só quando a conversa se soltou, ainda antes do “Olh’ó Passarinho!”, é que se abriram:
Queriam saber se eu teria duas fotografias de arquivo, feitas quase um ano antes. Uma onde entrava ele, outra onde entrava ela. O elemento comum era um amigo de ambos, na altura “namorado” dela, que tinha falecido pouco antes do Natal.
Ali não a tinha, garantidamente, mas em casa por certo que sim. Que não me desfaço de nenhuma fotografia que faço, muito menos das feitas com esta câmara.
E fizeram a foto do costume, de pé no enfiamento da rua, com o banco e o candeeiro em campo.
Quando a receberam, e enquanto eu tomava as notas habituais, bem como as necessárias para encontrar o que me pediam, lamentaram não terem ficado a olhar um para o outro. Fazer outra, com o artefacto, seria quebrar os hábitos, mas nada me impedia de usar a Pentax, que aquele queixume merecia algo de diferente.
O conjunto de fotos já ali está, guardado onde não me esquecerei de levar para entregar quando os vir de novo. Com uma impressão extra, esta, afixada ali no painel, que a história merece um realce especial.
E quem era ele? Fica na minha memória e arquivo, bem como na deles, que se estimam ou algo mais.
Desejo apenas que, daqui por um ano, um deles não me venha pedir a fotografia do outro!”


Quando escrevi o texto acima há oito anos, mais semana, menos semana, não imaginava que a última frase seria premonitória. Por motivos semelhantes.
Os intervenientes? Claro que não os mostro! Nenhum deles me autorizou, em vida ou depois dela, de o ligar a esta história por imagens.

Fica o local onde aconteceu.

By me 

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