quinta-feira, 30 de junho de 2016

Salazar



Há uns anos, e na secção dos utensílios de cozinha de um supermercado, ouvi uma voz infantil exclamar:
“Olha mãe: um Salazar!”
Logo seguido de uma voz feminina em protesto:
“Cala-te filho! Isso não se diz!”
Ainda fui a tempo de a ver a arrumar um destes no respetivo lugar. Era de uma cor vistosa, fluorescente, que dificilmente se deixava de ver.
Consigo imaginar que na casa daquela família se fizessem comentários pouco abonatórios ao então primeiro-ministro. E tivessem feito uma adaptação de alcunhas.
Tropeço agora neste conjunto de três, numa daquelas lojas de utilidades/inutilidades para o lar, franchisada ou não, que pululam nos centros comerciais.
Mas achei graça o serem em cinzento. Não apenas o cinzento não é a cor tradicional em termos de higiene, como por serem cinzentos, neutros sensaborões cromáticos os rapa-tachos, popularmente conhecidos por “salazar”, que tudo rapava do fundo dos tachos.
Aquilo que eu não esperava, confesso, foi o que se lhe seguiu, minutos após a aquisição: Comentado o troféus e os pensamentos associados, oiço dizer: “Ah, mas é do Jamie Olivier. Muito bom!”, como se o simples facto de ter essa assinatura transformasse um objecto banal e vetusto em algo especial, de vitrine.
Ainda não tive oportunidade, mas irei fazer uma comparação exaustiva de formatos e materiais entre estes e um clássico. Quem sabe se o cabo será diferente quanto baste para justificar fama e custo.

By me

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