quinta-feira, 9 de junho de 2016

Do sobre a utilização da imagem fotográfica - parte 8



O meu projecto “Old fashion” (um fotógrafo à lá minuta num jardim, oferecendo as fotografias que faz) durou pouco mais de três anos.
Neste período, fiz cerca de 1300 fotografias. Todas iguais, ou quase, do ponto de vista formal, técnico, luz… Variou, muito naturalmente, quem se colocou à frente da câmara para ser fotografado, as motivações para tal e as conversas tidas antes, durante e depois da função.
Tenho que admitir que, de quase iguais que são,  poucas recordo de memória, sem para elas olhar. E as que recordo, consigo-o apenas porque o fazê-la se revestiu de características especiais. No entanto…
No entanto cada uma delas foi especial para cada um dos fotografados. Pelo insólito acto fotográfico, pela circunstância em que aconteceu, pela companhia ou falta dela… haverá um montão de motivos para que cada uma delas seja especial.

Um destes dias, depois de ter passado umas horas no jardim da Estrela, e estando já na paragem de autocarro de regresso a casa, sou abordado por um casal. Ela divertida, ele meio a medo. Mas foi ele que conversou.
“Desculpe, mas… não era o senhor que tirava fotografias ali no jardim, com uma máquina grande, num tripé?”
Anuí, claro, ele prosseguiu, meio para mim, meio para ela:
“Estás a ver? Eu bem dizia! E aquela fotografia que tenho presa lá no espelho, está a ver, com aquele arzinho de não sei o quê, foi este senhor que ma tirou, ainda eu andava aqui no liceu.”

Não perguntei porque é que uma fotografia de um adolescente, de corpo inteiro, feita num jardim junto ao liceu era importante o suficiente para estar sempre visível no espelho, mesmo depois de homem, ou quase.
Mas fiquei particularmente satisfeito por saber que foi e é importante e que ainda sobrevive.
As mais das vezes os fotógrafos preocupam-se com os troféus que conseguem (situação, acontecimento, paisagem, modelo), sendo isso que conta do resultado do acto fotográfico.
Mas… e a importância para o fotografado?


Na imagem?

A minha câmara, eu e uma mocinha tailandesa de turismo em Lisboa, que fez questão de se fotografar com o fotógrafo. Que deste meu projecto, tenho imagens espalhadas pelos cinco continentes

By me

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