segunda-feira, 27 de junho de 2016

Fotografia ou retrato?



Por vezes temos destas surpresas e curiosidades!
Veio parar-me às mãos um livro interessante, do ponto de vista histórico. Intitulado “Tirée par… A rainha D. Amélia e a fotografia”, é uma colectânea de fotografias da rainha e feitas pela rainha, no final do séc. XIX e inícios do séc. XX.
Fotografias formais, descontraídas, de cerimónias, de passeios, de visitas oficiais, no país e no estrangeiro… interessante.
A preciosidade, do meu ponto de vista, é esta fotografia da rainha.
Feita por Vidal & Fonseca, em Lisboa e algures entre 1890 e 1899, trata-se de uma fotografia de estúdio, como tantas outras.
A retratada de pé, provavelmente com algo atrás, ainda que oculto, onde se encostar para evitar imagens tremidas, uma luz suave, um fundo pintado e esfumado… uma fotografia normal para a época não fora o facto de a perspectiva ser demasiado baixa para a época.
Se observarmos bem, o eixo da objectiva encontra-se a, talvez, um metro do chão e não perto da altura do rosto ou olhos como era e é habitual.
Esta questão, que não é certamente uma limitação técnica, não é de somenos importância. Se atentarmos ao olhar da retratada, constatamos que ela olha para além a acima de nós (e da câmara) numa atitude de quem vê mais do que apenas o que a cerca. Quase como que se a câmara (ou o espectador) ali não estivesse.
É esta perspectiva contra-picada (de baixo para cima) que faz desta fotografia algo de especial, que transforma uma fotografia num retrato, que justifica o livro e que me fará ir em busca demais trabalhos do estúdio onde foi feita, para tentar saber se terá sido uma opção pontual neste trabalho ou uma abordagem usual dos seus fotógrafos.

Nesta pesquisa tenho para procurar, e para além da obra referida no livro, o arquivo fotográfico municipal de Lisboa, duas bibliotecas específicas na matéria, a minha própria biblioteca e algumas pessoas a quem farei algumas perguntas.

Mas não me peçam prazos, por favor.

By me 

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