terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Uma questão de culturas



Há uns anos fui em serviço a uma embaixada de um país árabe, em Lisboa.
A situação no seu país era complica, a ferro e fogo mesmo, pelo que era interessante saber a opinião do invadido e não apenas o ponto de vista do invasor.
O trabalho era de media envergadura, sendo a equipa, no total, composta de umas dez pessoas.
Depois do salão invadido, os moveis desviados, o equipamento instalado, e antes ainda do começo do trabalho que ali nos tinha levado, surgiu a esposa do embaixador.
Trazia ela uma bandeja com tâmaras recheadas que nos ofereceu, com a informação adicional de ter sido ela a confecciona-las. Da bandeja trazida pelo empregado que a seguia, serviu-nos ela o chá. E, depois de mais algumas palavras cordiais e de circunstância, retirou-se, deixando o empregado a fazer o resto do serviço, que incluía bolinhos e café. Terminado o lanche, saboroso que foi, retomámos o trabalho.
Não consigo imaginar uma qualquer embaixada ocidental em que fosse a esposa do embaixador a servir ela mesma um lanche por ela confeccionado. O mais que aconteceria, em prol da hospitalidade, era sermos atendidos pelos empregados.
Esta diferença, entre ocidentais e orientais, mesmo que do médio oriente, é indicadora, sem dúvida, do papel que a mulher ocupa: serviçal, responsável pela casa e seu funcionamento. Mesmo levado ao nível da diplomacia isso se manifesta.
Gostemos ou não da subalternização da mulher, é assim que estas sociedades se organizam.
Daí o ser de particular importância uma frase lida no jornal Público de hoje sobre a revolta que está a acontecer no Egipto, apesar do recolher obrigatório:
“Durante a manhã, mulheres distribuíram bolos e água aos manifestantes que passaram a noite na praça.”

Uma nota extra, um recado à esposa do embaixador que tão bem nos recebeu há tanto tempo: As tâmaras e o chá estavam deliciosos.

Texto e imagem: by me

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